Meu Grande Erro - Texto de Fernando Nunes

 



O fotômetro é um equipamento para determinar, através de alguns parâmetros, o diafragma da câmera.

No final da década de oitenta comprei o meu primeiro fotômetro. Um velho e bom medidor analógico, um Gossen Luna-Pro, que nunca me deixou na mão. Os fotômetros digitais estavam começando a aparecer no mercado, não tardou e tive que comprar um.

O mercado publicitário na época era muito de aparências, imaginem um diretor de fotografia aparecer no set, na frente da agência, com um fotômetro analógico, perdiam a confiança na hora. Como um diretor de fotografia pode usar um equipamento tão ultrapassado, ainda mais rodando em 35mm?

Comecei a usar esse fotômetro digital em alguns trabalhos em Fortaleza e notei que quando o ambiente ou em externa estava muito quente ele dava pau. Levei para concertar, apesar de ser novo, e fiquei tranquilo.

Pois bem, apareceu um comercial em 35mm com o Evandro Mesquita para o Viagra. Uma bela oportunidade, e lá fui eu com minha mais recente aquisição, um Minolta IV digital que certamente iria impressionar a agência.

O comercial era em locação, uma sala que tinha duas paredes de vidro, então tinha bastante luz externa invadindo o ambiente. O dia foi passando até que na última cena escureceu. Reforcei a luz e lá fui eu medir com meu super e novo fotômetro digital. Achei estranho o que o vi, pela experiência de ter feito outros filmes usando o mesmo negativo notei que o fotômetro registrava um valor maior do que deveria dar, só percebi por causa da luz baixa em relação a quando estava dia. Com a luz e o negativo que estava usando pensei que deveria registrar entre f 2.0 e 2.8, o fotômetro marcava f 5.6. Dei de ombros e filmei, mas a cisma não passou.

Terminamos o trabalho e o negativo foi mandado imediatamente para o laboratório, no dia seguinte teríamos o telecine bem cedo.

Fui para casa e peguei o meu velho fotômetro Gossen e comparei com o Minolta. Gelei... Tinha uma diferença de dois pontos, isso é o material filmado estava subexposto. Imediatamente liguei para o laboratório, a esperança era que lá eles conseguissem superexpor dois pontos. O material já tinha sido revelado. O erro da exposição foi o primeiro. O segundo erro foi o desespero, lógico que não dormi e resolvi não alertar ninguém, não sei se foi por medo ou vergonha.

Como filmamos em 35mm e o orçamento não era grande, o telecine não era o “top”. Assim que a imagem apareceu no monitor gelei de novo, e bem na frente da diretora e da coordenadora de produção. Dois pontos de subexposição é muita coisa, estava tudo escuro e aquele telecine não daria pra realizar o trabalho, tivemos que ir para um melhor que custou o dobro. A primeira pergunta que me fizeram foi porque não avisei, não tive resposta.

O prejuízo para a produtora, diretora e pra mim foram imensos.

Conclusão:

O comercial em 35mm, de tanto que teve que ser mexido ficou com cara de 16mm. Demorou muito tempo para voltar a trabalhar com essa diretora. A produtora nunca mais me chamou.

Achei justo, meu erro foi muito grande. A partir daí nunca mais abandonei meu velho fotômetro analógico. A parte boa, se é que existe, é que a gente aprende com os erros e nunca mais aconteceu algo parecido. Assim que chegava no set escondido comparava o analógico com o digital e se notasse alguma diferença corrigia, afinal o show com a agência tinha que continuar, eles tinham que ver o fotômetro digital...


O fotômetro da discórdia, Minolta IV

Meu primeiro e velho fotômetro que nunca me deixou na mão, Gossen Luna-Pro

Meu fotômetro atual, Seconic L-758C

Comentários

  1. Parabéns pela coragem e profissionalismo, meu talentoso amigo e mestre. Em tempo, ainda tenho nas minhas coisas um Minolta auto meter 3, guardo com muito carinho.

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    1. Fernando Nunes15/09/2021, 17:04

      Obrigado Daniel. Esses três fotômetros que estão nas fotos foram os meus únicos em toda minha vida profissional, nunca vendi nem joguei fora.

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  2. Azar da produtora!!
    E o fotômetro analógico é muito mais charmoso 😉

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    1. Fernando Nunes15/09/2021, 17:09

      Concordo, o analógico é mais charmoso mesmo. Obrigado Márcia!

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  3. Aparências, como odeio isso, veem a gente pelo q temos de melhor, pela roupa q vestimos, pelo carro q temos, por onde moramos, enfim , mundo hipócrita.
    Parabéns, e continue com os dois sempre rsss...

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    1. Fernando Nunes15/09/2021, 17:10

      Também odeio aparências, mas, fazer o que? Ou entrava no jogo ou estava fora. Muito obrigado Katia, e vou continuar com os dois....kkkkk

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  4. Parabéns professor por compartilhar suas experiências mesmo que adversas.

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    1. Fernando Nunes21/09/2021, 17:52

      Obrigado Ulisses. Acho que as adversidades é o que nos fazem crescer e aprender.

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