O fotômetro é um equipamento para determinar, através de
alguns parâmetros, o diafragma da câmera.
No final da década de oitenta comprei o meu primeiro fotômetro.
Um velho e bom medidor analógico, um Gossen Luna-Pro, que nunca me deixou na
mão. Os fotômetros digitais estavam começando a aparecer no mercado, não tardou
e tive que comprar um.
O mercado publicitário na época era muito de aparências,
imaginem um diretor de fotografia aparecer no set, na frente da agência, com um
fotômetro analógico, perdiam a confiança na hora. Como um diretor de fotografia pode usar um equipamento tão ultrapassado, ainda mais rodando em 35mm?
Comecei a usar esse fotômetro digital em alguns trabalhos
em Fortaleza e notei que quando o ambiente ou em externa estava muito quente
ele dava pau. Levei para concertar, apesar de ser novo, e fiquei tranquilo.
Pois bem, apareceu um comercial em 35mm com o Evandro
Mesquita para o Viagra. Uma bela oportunidade, e lá fui eu com minha mais recente
aquisição, um Minolta IV digital que certamente iria impressionar a agência.
O comercial era em locação, uma sala que tinha duas
paredes de vidro, então tinha bastante luz externa invadindo o ambiente. O dia
foi passando até que na última cena escureceu. Reforcei a luz e lá fui eu medir
com meu super e novo fotômetro digital. Achei estranho o que o vi, pela
experiência de ter feito outros filmes usando o mesmo negativo notei que o
fotômetro registrava um valor maior do que deveria dar, só percebi por causa da
luz baixa em relação a quando estava dia. Com a luz e o negativo que estava
usando pensei que deveria registrar entre f 2.0 e 2.8, o fotômetro marcava f
5.6. Dei de ombros e filmei, mas a cisma não passou.
Terminamos o trabalho e o negativo foi mandado
imediatamente para o laboratório, no dia seguinte teríamos o telecine bem cedo.
Fui para casa e peguei o meu velho fotômetro Gossen e
comparei com o Minolta. Gelei... Tinha uma diferença de dois pontos, isso é o
material filmado estava subexposto. Imediatamente liguei para o laboratório, a
esperança era que lá eles conseguissem superexpor dois pontos. O material já
tinha sido revelado. O erro da exposição foi o primeiro. O segundo erro foi o
desespero, lógico que não dormi e resolvi não alertar ninguém, não sei se foi
por medo ou vergonha.
Como filmamos em 35mm e o orçamento não era grande, o
telecine não era o “top”. Assim que a imagem apareceu no monitor gelei de novo,
e bem na frente da diretora e da coordenadora de produção. Dois pontos de
subexposição é muita coisa, estava tudo escuro e aquele telecine não daria pra
realizar o trabalho, tivemos que ir para um melhor que custou o dobro. A
primeira pergunta que me fizeram foi porque não avisei, não tive resposta.
O prejuízo para a produtora, diretora e pra mim foram
imensos.
Conclusão:
O comercial em 35mm, de tanto que teve que ser mexido
ficou com cara de 16mm. Demorou muito tempo para voltar a trabalhar com essa
diretora. A produtora nunca mais me chamou.
Achei justo, meu erro foi muito grande. A partir daí
nunca mais abandonei meu velho fotômetro analógico. A parte boa, se é que
existe, é que a gente aprende com os erros e nunca mais aconteceu algo
parecido. Assim que chegava no set escondido comparava o analógico com o
digital e se notasse alguma diferença corrigia, afinal o show com a agência
tinha que continuar, eles tinham que ver o fotômetro digital...
Parabéns pela coragem e profissionalismo, meu talentoso amigo e mestre. Em tempo, ainda tenho nas minhas coisas um Minolta auto meter 3, guardo com muito carinho.
ResponderExcluirObrigado Daniel. Esses três fotômetros que estão nas fotos foram os meus únicos em toda minha vida profissional, nunca vendi nem joguei fora.
ExcluirAzar da produtora!!
ResponderExcluirE o fotômetro analógico é muito mais charmoso 😉
Concordo, o analógico é mais charmoso mesmo. Obrigado Márcia!
ExcluirAparências, como odeio isso, veem a gente pelo q temos de melhor, pela roupa q vestimos, pelo carro q temos, por onde moramos, enfim , mundo hipócrita.
ResponderExcluirParabéns, e continue com os dois sempre rsss...
Também odeio aparências, mas, fazer o que? Ou entrava no jogo ou estava fora. Muito obrigado Katia, e vou continuar com os dois....kkkkk
ExcluirParabéns professor por compartilhar suas experiências mesmo que adversas.
ResponderExcluirObrigado Ulisses. Acho que as adversidades é o que nos fazem crescer e aprender.
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