Desde pequena tenho pesadelos repetidos. Eles duram um tempo, acho que quando o imbróglio psicológico é resolvido, mudam de roteiro. Nunca marquei quantas décadas permanecem.
Todos são bem nítidos até hoje.
Vou dar uma colher para os amigos psicólogos.
Esse começou antes dos meus seis anos. Sei disso porque foi antes de entrar na escola.
Eu estava em um ambiente qualquer que tivesse porta, uma bruxa verde aparecia tirava uma meleca do nariz beeeem comprida e grudenta, jogava em mim (sim, senhores) eu diminuía feito Alice no País das Maravilhas e era colocada dentro do buraco da fechadura. Acordava suada e agoniada por ficar num lugar tão apertado.
O segundo já era adolescente. Estava sempre andando sozinha numa rua deserta a noite e escutava passos. Conforme eu acelerava os passos também aceleravam, até que eu sentia que chegavam muito perto e acordava com o coração na mão.
Teve aquele que eu corria de algum perigo numa mata, cheia de obstáculos e estava sem lentes de contato. Quem é mega míope vai entender. Correr com tudo desfocado é realmente um pesadelo.
Em outro pesadelo estou no banco de trás de um carro desgovernado, SEM MOTORISTA, descendo uma ladeira e eu tenho que voar pro banco da frente, me atrapalhando com o espaço no meio dos bancos e o cambio, pra sentar no banco do motorista e tentar controlar o carro, detalhe: EU NÃO DIRIJO! Esse durou até a Lu sair da infância.
E o atual. Estou num estúdio com tudo pronto, equipe me esperando e eu não tenho a menor idéia do que se trata o roteiro. Fico desesperada pelo set procurando o dito e não acho. Ator esperando a marcação e direção, equipe esperando a definição do lugar e qual lente da câmera usar, enfim, um corre que não acaba enquanto não acordo.
Esta manhã acordei angustiada com mais um pesadelo. Estava
em um estúdio enorme, mas completamente fora do padrão. Comprido, teto baixo e
estreito.
Chego pra filmagem. Equipe gigante espalhada, vários sets cenografados, NÃO CONHEÇO NINGUÉM e não tenho a menor idéia do que se trata. Começa a insana procura pelo roteiro.
Paro num set que é uma vendinha. Um balcão com um recuo pequeno com prateleiras e a parte da frente com uma mesinha tipo botequinho de comunidade. No lado de dentro cabem duas pessoas e no de fora também. Um homem totalmente blasé está ali com um papel na mão, já chego pra ver se é o roteiro e começo a falar com ele. O dito me esnobando como se estivesse muito ocupado me diz:
- Olha! Eu não vou ficar repetindo a mesma história quinhentas vezes, então aguarde todos chegarem, assim falo uma vez só.
Eu pergunto:
- Quem é você?
Não lembro a resposta idiota que deu e eu estico minha mão e digo:
- Prazer Ana.
O cara muda a expressão de blasé idiota para um puxa saco e afina a voz. Me explica que naquele set doze atores vão contracenar.
Eu penso: “Doze?!?! Puta que o pariu! Se couber quatro aqui é muito!!!!”
Olho para cima pra ver onde posso posicionar a câmera e vejo que o teto é baixo, quase alcanço com o
braço esticado. O desespero começa novamente e saio procurando o roteiro,
pensando: “Quem foi o fdp que criou isso
e como caí nessa roubada?”
Cruzo com a primeira conhecida. Aliviada pergunto quem vai fazer a fotografia e a câmera e ela me diz que a câmera (não lembro o nome) é uma mulher que não conheço e o diretor de fotografia é o Rodolfo Sanches.
Pra quem não é do meio Rodolfo Sanches é um conceituado diretor de fotografia que fez vários longas. Muitíssimo respeitado. Nasceu em 1944, portanto, não tá pra brincadeira.
Imagina o pesadelo dentro do pesadelo. Trabalhar pela primeira vez com Rodolfo e não ter a menor idéia do que fazer no set.
Continuo na busca frenética do roteiro e pela quantidade de cenários nesse estúdio de merda imagino o tamanho do filme.
Graças ao meu anjo da guarda acordo antes da vergonha ser vivida.
Só rindo muito mesmo Ana, não sei como lembra, tive pesadelos? Sim tive, mas não lembro de nenhum, 🤔🤔 ainda bem ....
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