Rótulos, Melhor não Tê-los - Texto de Fernando Nunes

 



Houve uma época em que o mercado publicitário rapidinho rotulava os profissionais. Por exemplo: se um diretor fizesse um comercial fantástico com criança, pronto, dali em diante só ia dirigir criança. Se um diretor de fotografia fizesse um trabalho muito bom em um comercial de carro, durante muito tempo só ia fazer comerciais de carro, mesmo que você odiasse esse tipo de trabalho. Quantas vezes eu ouvi: “só me chamam pra fotografar tal coisa, não aguento mais, queria fazer trabalhos diferentes”.

Comecei a receber ligações para fazer trabalhos em diferentes produtoras com o diretor Pablo Nobel, não havíamos trabalhado juntos, só o conhecia de nome. A minha agenda, por coincidência, tava sempre ocupada na data dos trabalhos, nunca dava certo, até que um dia deu.

Depois da reunião de pré, quando estávamos sozinhos, perguntei por que a insistência em trabalhar comigo, ele respondeu:

- Eu sou muito amigo do Rodolfo Vani (citado no Podcast Cinematórias no episódio 14 – Filme Simples e Primeira e Única), de tempos em tempos levo o meu repertório para ele avaliar. Nesse último ele gostou muito, mas me disse que precisava melhorar a fotografia dos comerciais em vídeo e sugeriu trabalhar com você, porque é o melhor diretor de fotografia de vídeo.

Ao invés de ficar feliz, fiquei muito chateado. Primeiro porque nunca me considerei o “melhor diretor de fotografia de vídeo”, segundo porque se o mercado me rotulava assim eu nunca iria conseguir fazer direção de fotografia em película, que era meu objetivo.

Fizemos o trabalho, tudo deu certo, mas isso ficou martelando na minha cabeça durante muito tempo.

Não vou ser repetitivo e contar de novo como consegui apagar esse rótulo, pra quem tem curiosidade, tem o texto no Blog Cinematórias ”Geração Bit” e no Cinematórias Podcast “Geração Bit e Hippie” que conto como isso aconteceu.

Aqui gostaria de falar de uma tese antiga e que tem haver com rótulo: se você é muito, mas muito bom no que faz, será muito difícil mudar.

Ao longo desses anos conheci várias pessoas que tentaram seguir o que seria um caminho natural, mas não conseguiram.

Vi vários assistentes de câmera maravilhosos tentarem se lançar como diretor de fotografia. Vi vários assistentes de direção fantásticos tentarem ser diretor. Não deu!

O mercado te rotula tanto que não tem como, a grande maioria não consegue.

Lógico que há exceções, mas são poucas.

O contrário já vi acontecer bastante. Assistentes de câmera e de direção que eram bons, nada extraordinário, conseguirem passar para esse novo estágio, inclusive eu.

Clique aqui para ouvir o Podcast Cinematórias 14 - Filme Simples e Primeira e Única

Clique aqui para ouvir o Podcast Cinematórias 17 - Geração Bit e Hippie

Comentários

  1. Rotular? Como assim? Absurdo isso, vc pode ser bom no q faz numa coisa , mas pode ser melhor mas muito melhor em outra, não sabia q neste meio era assim.
    Vivendo e aprendendo, aliás aprendemos coisas até morrer, ninguém, mas ninguém sabe de tudo 😉

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    Respostas
    1. Fernando Nunes24/11/2021, 18:17

      Sim Katia, rótulos existem nesse meio e muitos, ainda vou falar mais sobre isso.

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