Pandemia em alta, trabalho nem pensar. Em OUTUBRO veio o primeiro do ano.
Eram uns 80 filmes, eu acho, não lembro, mas era uma penca.
6 diárias remotas e 3 presenciais.
Eu via meus colegas falando como gravavam remotamente e eu achei bem bacana, mas numa produção barata acha que ia ser o “bacana”? Nããão.
Eram dinâmicas de games, onde 3 influencers participavam, em cada episódio iam usar um produto da linha, primeiro eles jogavam sozinhos, depois em dupla e por último em trio. Quem fizesse mais pontos ganhava o campeonato.
Como resolvemos:
Um computador ficava num canto e eu via a coisa acontecendo como Making of, ou seja, eu “imaginava” o enquadramento. Se a câmera tivesse tremido ou falhado o foco, ia assim mesmo e ficava tensa tentando escutar o áudio pra ver se não tinha que repetir por ter falado algum termo que não podia. Eram circuitos onde o influencer às vezes tinha que correr pra conseguir realizar a prova em menos tempo, tinha uma diretriz, mas a coisa ia acontecendo e o câmera ia acompanhando. Na fase remota, as equipes eram dos influencers, passava todas as diretrizes pro cara que ia gravar. Tinha um deslumbrado, tô com tolerância zero pra esses tipos. É a geração que ganhou muito dinheiro na internet sem preparo psicológico pra fama. Quando o principal é “afetado” seu staff fica igual.
Última diária remota com esse cara, já era noite, todo mundo cansado, os pais dele chegaram, eles começaram a conversar como se não tivessem pessoas ali assistindo, ele diz que tem gente ali, apontando para o computador e a mãe vai lá e desliga. OI? Ficamos esperando uma eternidade e não voltaram. Depois de meia hora esperando, eu conversei com a produtora e entreguei pra Deus o restante da filmagem que eles iam ter que terminar sozinhos e contar que iam terminar. Outro dia disseram que o sinal caiu, sei.
Aquela tensão com cliente, produtora, assistindo junto comigo os primeiros.
A sogra (com Alzheimer) entrava de cinco em cinco minutos pra avisar que ia tomar banho, esquecia e vinha de novo avisar, eu lá dirigindo, ela chegava do nada, me atropelava e fazia qualquer pergunta desconexa, a cachorra ficava quieta até uma certa hora, depois começou a querer subir no computador pra eu parar de falar. E quando eu dava um olé nela, ficava chorando. Eu tinha que fechar o áudio toda hora.
No segundo dia me tranquei e coloquei um aviso grudado na porta GRAVANDO, a sogra tem medo de ficar sozinha, então eu disse:
- Vou trancar a porta, sinto muito, mas é meu trabalho e não posso ser interrompida. – O quê eu ia fazer??
Vamos lá, terceiro dia de gravação, outra cidade outra equipe.
Adorei a dinâmica, o cinegrafista revisava algumas coisas que eu pedia e é impressionante o que a experiência te dá, eu cismava com alguma coisa, perguntava como tinha sido filmado e pedia pra revisar, bingo tinha coisa errada e era refeito.
O garoto foi sensacional, além de um excelente profissional.
Vamos pra quinta diária.
Mesma equipe dessa segunda cidade, graças!!!!
Só que não tinham um computador pra deixar como câmera, então usaram um celular, NA MÃO, pra servir de Making of e eu sonhando com o “remoto” dos colegas que o diretor via exatamente o que a câmera estava fazendo.
A mão cansava e o telefone mirava, o calção do cara, as pernas, ou cortava a cabeça, isso tudo chacoalhando. Pedi várias vezes pra corrigir porque eu não estava conseguindo acompanhar, durava um minuto e já descambava de novo. Enfim eu tentava imaginar a cara do menino, ou se tava vazando alguém atrás olhando pra câmera, porque era na casa deles.
Chamei a produção no privado e falei:
- Não posso assumir
nenhum erro porque simplesmente estou as cegas.
Dito e feito! Material chega em SP e em todas as cenas de uma dinâmica têm um adesivo enorme na porta do freezer com um copo de cerveja. Nem vi esse freezer. A casa caiu, quem vai arcar com o prejuízo de refazer a diária? Ah, mas a diretora não viu?
Não.
Eu avisei de novo, que se continuasse daquele jeito não precisavam de mim.
Enfim acabaram as remotas e vieram as presenciais em São Paulo.
Teste de COVID, na entrada da locação.
O primeiro, aquele que a mãe simplesmente fechou o computador na minha cara, se desculpou pelo ocorrido, ok, mas adiantou o quê suas desculpas?
Esse cara não queria fazer o teste por nada nesse mundo, ficava tendo piti lá fora, até que a produtora perdia a paciência e ia dar um tranco no cara. A gente pensou que era medo de picar o dedo.
O cara não me respeitava, eu tinha que gravar às vezes com os três juntos e às vezes solo.
TODAS as vezes que eu rodava a câmera e dava ação, ele continuava conversando com os outros dois. Eu chamava a atenção e se dependesse dele ficava lá, mas não era só isso! Ficava fazendo exercícios de fono, somente depois do comando ação. E a gente esperando o bonito fazer ridículo ali toda hora. Eu sei que minha paciência esgotou e comecei a enquadrar o moleque de uma maneira mais dura, enquanto com os outros me divertia na gravação. Respeite pra ser respeitado. Machistinha. Já tinha 25 anos, não era nenhuma criança.
A tensão foi ficando tão grande que a cliente pediu pro atendimento da produtora me dar um toque pra pegar mais leve com o cara. Eu respondi:
- Não vou deixar um
moleque desse, subir no meu pescoço e tirar a minha autoridade no set. Ou você
conversa com o empresário dele, ou vocês colocam outro diretor porque eu não
vou ser desrespeitada e não me impor.
Sei lá o que falaram pro cara, porque no dia seguinte tava uma uva.
Última diária. O tal estava sentado numa cadeira pra dar um depoimento, viu passar atrás da equipe o moço que fazia o teste de covid e o cumprimentou, brincando.
Aí aproveitei pra dar um toque nele, que ele tinha que trabalhar esse medo porque qualquer gravação que ele fizesse (que não sozinho em casa) tinha que seguir esses protocolos. Aí a criatura me respondeu:
- Eu não tenho medo.
- Então por que aquela
resistência todos os dias?
- Porque não gosto de
fazer nada que me mandam. Não gosto que mandem em mim.
AHHHHHHHH pra quê!!!!! Aí eu entendi por que toda vez que dava ação ficava fazendo firula. Que falta de respeito e profissionalismo. Se eu já não gostava do cara, dali pra frente foi ladeira abaixo, ainda bem que era a última diária e já estávamos quase no final dela.
Eu mantive a calma, a educação, em tom de voz baixo disse:
- Meu querido, aqui você tem que pensar que é uma coisa maior do que você ser mandado ou não, aqui você pode contaminar alguém e essa pessoa morrer. Fazer o teste não tem que ser encarado como obrigação, é altruísmo entendeu? Um ato de amor e responsabilidade que você tem com o próximo. Aqui nos preocupamos uns com os outros, porque você pode passar pra equipe e essa equipe tem família.
A cara de @# que ele fez foi inesquecível.
Eu fico pensando, essa pessoa egoísta, soberba, que ficou famosa na internet e deve ter ficado rica, tem mais de 10 milhões de seguidores na maioria crianças. Que tipo de influência um ser desse pode passar?
Ainda bem que minha filha já tem 26 anos, imagino o quanto os pais têm que monitorar o conteúdo do que seus filhos assistem.
Como tem gente feia no mundo.
Ana do céu!!!
ResponderExcluirQue tsunami!! Vivendo e aprendendo 😘
Eta mas que vontade de dar um peteleco na orelha desse menino!
ResponderExcluirO ego !!!!!!
ExcluirComo tem gente sem noção nenhuma não? 25 anos? Não posso crer, q mundo nós vivemos?
ResponderExcluirEstamos sem direção nenhuma....
Acho que os 25 de hoje na grande maioria são os de 15 de ontem.
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