Saint-Martin é uma ilha do Caribe, talvez a mais
louca e diferente da região. Ela é divida em dois, 60% pertence a França e 40%
a Holanda.
Em 1995 o furacão Luis praticamente destruiu o país.
Dois anos depois o governo Francês promoveu uma grande visita de jornalistas
especializados em turismo dos grandes meios de comunicação de vários países,
entre eles o Brasil, com o intuito de promover e dar visibilidade a ilha para a
volta do turismo, sua grande fonte de renda.
Enquanto isso aqui no Brasil um casal de atores
famosos tinha em uma emissora de TV um programa semanal de turismo, produziam juntos,
mas só ela é que apresentava o programa. Houve uma troca na direção, quem
passou a dirigir foi o Pablo Nobel. Ele me convidou para ir a Saint-Martin para
fazer a abertura do programa e rodar um ou dois episódios em vídeo.
A abertura do programa era feita em super oito, não
por economia (pelo menos o casal dizia), mas por estética, até porque o super oito
já era bem ultrapassado, tanto que conseguir os cartuchos, revelar e telecinar
foi difícil.
Com uma equipe pequena lá fomos nós: eu, Pablo, Iara
assistente de direção, Garcia câmera e me desculpem, não consigo lembrar quem
era o assistente de câmera.
A viagem já foi uma aventura. Fomos ao Panamá, de lá
para Barbados. No dia seguinte pegamos um avião pequeno, tipo Cessna, que era
uma espécie de “circular” do Caribe, pousou em sei lá quantas ilhas até
chegarmos, não sem sacolejos e sustos. Quem me conhece sabe que eu fumo, agora
imagina um sujeito tendo abstinência por horas! O que valeu mesmo foi olhar a
maravilha do mar caribenho do alto. Mesmo em alto mar é possível ver os recifes
de tão cristalina que é a água.
Tivemos que entrar pela parte holandesa da ilha, não
tinha tanta burocracia com visto. Aí a diferença era grande. O lado francês era
todo “almofadinha”, soberbo, o holandês era meio escrachado, sem frescura,
tanto que quando saíamos à noite era para o lado holandês que íamos.
Ficamos em um Resort maravilhoso, daqueles tipo Ilha
da Fantasia, chiquérrimo. Estava cheio de jornalistas e alguns eram
brasileiros. Conheci uma senhora que escrevia uma coluna de turismo, não lembro
se da Folha de São Paulo ou do Estadão. Conversei com ela por um bom tempo, me
contou que a primeira coisa que fazia quando chegava em qualquer lugar era ir
para um mercado ou supermercado local e ficar observando. Viu minha cara de: Oi??? E sem eu perguntar disse que é a
melhor forma de você saber os costumes, cultura, poder econômico, etc. Fiquei
alguns minutos pensando e achei absolutamente lógico e genial, passei a fazer
isso toda vez que ficava em alguma cidade por mais tempo, principalmente em
campanhas políticas.
Do lado Francês o topless era comum e havia algumas
praias de nudismo. Só que ficar nu era permitido somente nessas praias.
Conhecemos e entrevistamos uma senhora, acho que tinha uns sessenta anos,
completamente revoltada com isso. Ela vendia cangas nas praias convencionais
ficava nua e só cobria a parte de baixo com um pequeno pano, era pra provocar
as “autoridades”.
Outro lugar que fiquei impressionado foi em um “cemitério”
de barcos e aviões que ficaram completamente destruídos com o furacão Luis. Era
um mar de sucata.
Quanto ao trabalho em si, tudo foi mais ou menos
bem.
A câmera super oito não tem vídeo assiste, portanto
só eu sabia o que tinha sido filmado. A primeira cena que rodamos foi logo no
dia seguinte da nossa chegada, café da manhã produzido na beira de uma das
piscinas do Resort. Uma manhã belíssima com o sol baixo e quente ajudando a
cena. Com a câmera na mão fui buscando planos da nossa linda atriz, experiente
que era, sabia como olhar e onde se posicionar na luz. Cortei a câmera e o
Pablo me pergunta:
- Então, como
ficou?
Abri um sorriso enorme e respondi muito feliz:
-
Sensacional, a luz tá linda, as expressões tão ótimas, ficou maravilhoso...
Pablo também sorriu, deu um tapinha nas minhas
costas e se afastou. A atriz se aproximou de mim e disse em um tom de puro
deboche:
- É bom
você controlar a sua empolgação porque assim vou desconfiar do seu
profissionalismo. – começou a andar em direção ao marido.
Minha expressão foi da alegria para a decepção em
menos de um segundo, fui atrás dela e disse em um tom de voz bem baixo:
- Você
pode tirar tudo de mim, menos meu entusiasmo.
Aí foi a vez dela mudar de expressão, também não
esperei muito pra ver, dei as costas para o casal e fui embora.
O trabalho continuou nesse clima, ela passou o resto
dos dias tentando puxar conversa, eu continuei o mesmo com todos, menos com
ela. Quando terminava a cena e o Pablo me perguntava eu respondia bem sério:
- É, foi bom...
Quando ela não estava vendo eu fazia a maior festa
com gestos e sorrisos.
O que disse a ela é a pura verdade. Até hoje, mesmo depois de tantos anos, nunca perdi meu entusiasmo.
Isso mesmo, E NUNCA PERCA.....por isso vc é bom no q faz....
ResponderExcluirO dia que perder meu entusiasmo penduro o fotometro. Valeu Katia!
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