Gravação em Votorantim, Van lotada, o Alemão (Hélcio Nagamine) descendente de japoneses, era o diretor de fotografia, só eu o conhecia. Ele lá sentado quieto quando alguém da equipe pergunta:
- Por que te chamam de Alemão?
- Ué! Porque meus pais são alemães.
- Alemães, alemães, tipo loiros?
- Sim.
- Você foi adotado?
Aí ele olha meio que em dúvida, meio que indignado e responde muito sério:
-Que eu saiba não!
Silêncio na Van até que todo mundo se toca do humor do cara e dispara a rir.
Salvador.
Estávamos fazendo um trabalho para Odebrecht e na mesma época em que a série Dona Flor e seus 2 maridos com Edson Celulari, Julia Gam e Marco Nanini, estava sendo rodada lá.
Então era um tal de fãs pra cá e pra lá pra ver o elenco. A gente passava por alguns lugares e já sabia que estavam por ali porque era um montão de gente em volta.
Nossa locação era a Igreja do Bonfim, paramos a Van e todos foram descendo com equipamento, eu era a última e devo ter me enrolado pegando roteiro ou qualquer coisa, quando escuto uma gritaria e o povo começa a cercar a Van, eu não tinha como sair, eles achavam que era a Van da série e que provavelmente eu era uma famosa. As pessoas gritavam, se empurravam pra me ver.
Começou me dar um pânico que nunca imaginei sentir. Parecia que eles iam invadir a Van.
Não tinha idéia do que fazer. De repente o Clóvis que era um dos produtores, veio abrindo caminho no meio daquele povo. Ele era alto, forte, parecia um leão de chácara e veio truculento pra cima dos caras, me tirou da Van falando que não tinha ninguém famoso ali, só tinha a diretora dele e me fez escolta até a locação. Me agarrei nele feito sei lá o quê.
Eu definitivamente não sirvo pra ser famosa cercada de fãs e fotógrafos. Fiquei com o coração disparado um tempão. Parece que eles querem avançar em você. Que medo!
Sertão da Bahia, mesmo trabalho.
A locação era um canal de irrigação da Odebrecht no meio do nada, do NADA.
Eu não lembro que cidade era, acho que não tinha Van, bom não sei por que alugamos uma Blazer branca.
Paulo Costa (Xinxa) com a câmera no colo, eu não lembro se ele estava com colete ou só eu que estava (pra não carregar bolsa). Vamos entrando no mato, estradinha de terra e toca o carro. Lá pelas tantas tinha um carro atravessado na pista com um cara mau encarado parado em pé com a porta aberta.
Na hora que o motorista avistou o cara falou:
- Abaixa a câmera porque ele vai achar que é arma e fiquem calmos. Aqui tem muita plantação de maconha disfarçada com a de abacaxi (eu acho que era abacaxi). E a polícia usa Blazer. – E o colete piorava ainda mais a caracterização.
Pensei: Pronto!!!!!!!!! O cara vai apagar todo mundo e minha família nunca vai achar meu corpo. Fiquei apavorada! Odeio adrenalina, eu a sinto correr pelas veias até os pé e dói ,quando é de medo mortal, minhas pernas morrem. Se o cara mandasse eu sair do carro ia ter que me arrastar no banco, me jogar de lado pra fora do carro e ficar ali caída. Imagine a cena. Nada de uma morte clássica para ser reproduzida em filme, ia ser digna de Mazzaropi.
O motorista já foi fazendo sinal pro cara, não lembro se desceu do carro pra explicar que não éramos polícia e sim uma equipe de filmagem que ia filmar o canal lááá um montão de km adiante. Beeem pra frente, muuuuito pra frente.
O cara continuou quieto só olhando pra gente. Não falava nada, não saia da frente. Ficou ali parado.
O coração só tum tum tum tum.
Parecia uma eternidade.
Ele lá, nós aqui.
Sem pressa alguma ele entrou no carro fechou a porta sem tirar os olhos da gente, ligou o carro e endireitou pra gente passar.
Ali agradeci Arcanjo Miguel, Santo Expedito, Deus, Jesus e sei lá mais quem.
Na volta, paramos numa casinha no meio do nada, com várias crianças. O Leo produtor desceu do carro pegou nosso isopor com frutas iogurte e mais quitutes (já que não ia ter onde almoçar ele levou um “enganizer” se desse fome) e ofereceu para a família. Parecia Natal, a mãe não acreditava, as crianças pareciam eufóricas com os “presentes”. Acho que nunca tomaram iogurte na vida.
É esse Brasil que ninguém vê.
Se você tem uma história na Van manda pra gente por áudio via WatsApp ou pelo e-mail: cinematorias@gmail.com
Melhor que Indiana Jones!!!
ResponderExcluirQue crianças lindas 🥰
Deve dar saudades .....
ahahahahahah Indiana Jones foi boa!
ExcluirTbm vcs vão pra cada lugar q pelo amor heim......depois não querem passar "perrengue" kkkkk.....
ResponderExcluirQue medo amiga.......
Medão!!!
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