Por esses dias tava pensando no começo, lá na
pré-história quando entrei na TV Tupi. Quanta história o pessoal contava,
inclusive na época da TV ao vivo. Hoje escrevo só uma, essa me contaram logo
quando entrei.
Gilberto Botura era meu chefe, gente boa, muito
inteligente, de bom humor, mas também quando ficava bravo era osso...
Quando ele ia ao centro da cidade tinha o costume de
passar em um boteco na Praça da Sé. Naquele dia fez o habitual, sentou em um
banco no balcão, pediu o lanche e um café e ficou esperando.
Dia quente, ventilador velho ligado, desses de pedestal,
só que com um barulho insuportável. O Botura foi ficando irritado a ponto de
pular o balcão e ir até o ventilador. Viu que uma das hastes estava batendo na
proteção de alumínio, tirou o ventilador da tomada e puxou a haste, aí o
português, dono do bar, veio furioso em sua direção, xingando, gritando,
querendo bater, a confusão foi total até que o Botura foi expulso do boteco.
Assim que chegou na Tupi contou o ocorrido em uma roda de
pessoas, entre elas estava o Brás que na época trabalhava como contra regra.
Depois ele virou iluminador, e nessa profissão é que o conheci.
O Brás devia ter uns quarenta anos, era baixinho, com uma
cara engraçada, parecia uma caricatura, também era conhecido por ser meio
“maluco”, não media muito o que falava nem as suas ações. Ele ficou indignado e
foi logo dizendo:
- NÃO NÃO NÃO, isso
não pode ficar assim, a gente tem que se vingar!!!
Plano arquitetado e lá foram pra Praça da Sé o Botura e o
Brás.
Na contra regra o Brás pegou uma roupa de padre e assim
ele entrou no boteco do português, sozinho. Chegou no balcão, deu um tapa forte chamando a atenção de todo mundo e
falou bem alto:
- Me vê ai uma
cachaça....dupla!
Aumentou ainda
mais a curiosidade do povo, pensa em um padre baixinho, com cara esquisita entrando
no boteco e pedindo cachaça...
Deu um tempinho até ser meio esquecido, ficou
estrategicamente perto de um aquecedor de café, esses que ficam em banho Maria.
Quando viu que ninguém estava olhando, tirou de dentro da batina um punhado de
gelo seco e rapidamente jogou na água quente, a fumaça começou a sair, ai o
Brás gritou:
-
FOGO, TÁ PEGANDO FOGO!!! – e saiu correndo, assim como todos,
inclusive o português.
Encontrou o Botura em uma esquina e não esperaram para
ver o final.
No primeiro mês o Botura não me colocou em nenhum lugar,
foi me escalando entre novela e linha de show. Os estúdios da linha de show
eram na Alfonso Bovero, ao lado da padaria Real que tinha até auto falantes
para chamar técnicos e atores, era quase a área de descanso da TV. Depois que a
Tupi fechou os estúdios foram da MTV. Ali fiz programas como o Almoço com as
Estrelas e o primeiro programa voltado para o público feminino, Mulheres
(depois de alguns anos a TV Gazeta teve um programa com o mesmo nome). Aliás,
nesse fiz minha estreia como ator. Me pediram para falar um texto curto,
extremamente machista, a mulherada do programa meteu o pau, mas juro, só li o
texto...
Um dia o Botura me fixou na novela Como Salvar Meu
Casamento, com a Nicette Bruno como protagonista, já já falo dela. Os estúdios
eram na Vila Guilherme.
Lá conheci a “fábrica” de rodar capítulos, eram pelo
menos três por dia. Tinha apelidos para os cenários: “hora extra”, “adicional
noturno”, entre outros. Eram cenários de atores que davam trabalho, não
decoravam textos, erravam sistematicamente e sempre tomavam esporro do Atilo
Riccó, diretor da novela.
Assim como foi minha primeira novela, também era de
alguns atores que estavam começando. Beth Goulart, Giuseppe Oristânio e
Paulinho Guarnieri. Viraram amigos, principalmente o Paulinho, tínhamos a mesma
idade, mesma convicção política mais à esquerda, conversávamos muito sobre
livros e teatro, principalmente por causa do seu pai, Jean Francesco Guarnieri.
Nessa novela fiz minha segunda participação como ator. Em
uma cena fui motorista de táxi da Nicette, tivemos que repetir algumas vezes,
não conseguia parar no lugar certo... Era nervosismo, afinal não é fácil
contracenar com uma atriz desse porte....kkkkkkkk.
Quanto a Nicette Bruno, em uma cena longa, quase um
monólogo, ela foi crescendo na emoção, impossível tirar os olhos dela
interpretando, quando terminou todos no estúdio estavam chorando, e ela, também
enxugando as lágrimas, saiu do estúdio aplaudida. Nunca mais vivi na minha vida
profissional nada parecido. Pena que uma grande atriz como ela tenha partido.
O iluminador dessa novela era um cara muito legal chamado
Pereira. Um dia conversando me perguntou qual seria meu futuro. Respondi que a
Tupi era só uma passagem, eu queria estudar jornalismo. Ele respondeu:
- Nossa, eu jurava
que você ia seguir nessa profissão, não te vejo fora dela.
Quando penso nessa conversa sempre fico com a impressão que o Pereira era vidente.
Fernando, não tem nenhuma ponta dessa sua famosa participação nessa sua fase da sua vida? Seria legal ver, rsss.....
ResponderExcluirOi Katia, não tem, minha fama foi meteórica....kkkkkkk
ExcluirHahahahaha....
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