Texto de Ana Cal
Logo após o Toffer Geração Beat (texto anterior) o Fê me chamou pra dividir a direção de Toffer Geração Hippie. Sonho.
O roteiro começava com um “careta” (gíria da década de 60) envolvido num acidente de carro na estrada e um motoqueiro o socorre levando pro seu acampamento hippie.
O “careta” chega e é recebido pela mocinha.
Ali rola de tudo, plantação, morgação, tai chi chuan, dança e um casal de mímicos imitando tudo o que o forasteiro sente, meio que tirando uma do cara, até que o cara resolve largar tudo e viver com eles.
Dividimos funções e aprovamos tudo juntos. Indiquei profissionais amigos que estavam começando comigo. Todos com menos de 30, inclusive o Fê.
O figurino ficou por conta do Silvio Monteiro, já que o produto era malha ele criou e mandou confeccionar 90% do figurino, o resto era couro e jeans.
O casting era grande, além dos contratados de agência tinha amigos e amigos de amigos, tava todo mundo em casa nesse set, até o cliente Emmanuel (Manoli) Baltadakis, a Denise Borro, hoje uma grande maquiadora do cinema, na época fazia parte da produção desse filme e o filho do Raul Gil, o Raulzinho que tava fazendo o Making of colocamos como personagens. Era engraçado vê-los caracterizados o dia todo trabalhando. Paravam só pra fazer a cena e depois taca-lhe pau cada uma na sua função.
Os personagens específicos como um cara fazendo Tai chi chuan chamei o Júlio meu amigo que praticava diariamente, os mímicos um amigo que fez Macunaíma comigo e a Denise Borro (que parece que tomou formol porque continua igual), precisava de um Hare Krishna, colocamos um verdadeiro, 2 motoqueiros legítimos do Abutres, o cara que tá fumando e se deitando lennnntamente, tentamos ser sutis, é o cliente Manoli e o que estava ao seu lado dormindo ou viajando era o Raulzinho.
Foi necessário um ônibus só pra levar o casting e um caminhão baú para o figurino. O André Burza meu marido era o diretor de produção.
Esse filme foi um parto pra sair porque chovia muito, e era adiado e adiado até que o cliente disse:
- Chega! Vamos rodar!
Eu banco se chover.
Acho que tínhamos ali mais de 100 pessoas entre casting e equipe, o tombo ia ser grande se não desse pra rodar.
A locação tinha que ser num lugar meio deserto pra servir de cenário para a colônia dos hippies. E foi achada em ITU!
Madrugamos.
Quando chegamos ainda não dava pra saber se ia ter sol ou não. Foi tenso , mas o otimismo do cliente era contagiante.
Enquanto a produção estava montando o ambiente,
o sol começou a nascer e o Fê resolveu rodar a última cena do filme que era no entardecer pra garantir no caso de chover, aí foi uma correria pra dar tempo.
A gente nunca percebe o tempo que leva pro sol subir ou descer quando estamos assistindo, te digo que é rápido e se você não estiver com câmera, lentes, filtros e blábláblá preparados perde o ponto.
Deu tudo certo. Amém Santa Clara padroeira do audiovisual!
Pra quem não sabe na maioria das vezes a trilha é feita depois do filme editado.
O Gilberto Silveira (que após esse filme ficou mais de uma década como meu trilheiro oficial, só deixou de ser porque virou roteirista, mas continua um super mega amigo) e o Laszlo de Andrade fizeram uma trilha maravilhosa, me lembro que ele ligou de madruga (sim numa produção não tem hora pra resolver um perrengue) porque tinha emperrado numa parte da trilha e não conseguia sair dali, me disse que era no ponto do Hare Krishna, eu na hora larguei um:
- Põe um Hare Hare na letra! - e ele se virou com maestria.
Era 1991, a MTV Brasil estreou em outubro 1990, amou o filme e ofereceu várias inserções grátis, além das pagas, pra passar durante a programação porque tinha a cara dela. Foi beeeem veiculado.
Hoje claro que eu faria muito diferente, acho que o Fê também. É nossa história, eu ainda carregava influências do teatro, o Fê fez uma foto muito fiel ao final dos anos 60 e inicio dos 70 e ficamos realizados com o resultado.
É uma pena que o único registro que temos desse filme está com a qualidade ruim, não da pra ver que fotografia linda ele tem.
Eu tenho um carinho enorme por esse trabalho, pelos amigos que participaram e não estão mais nesse plano, pelos profissionais que são nossos amigos até hoje, pelo cliente que deixou a gente livre, enfim esse filme foi uma mosca de cabeça branca. (traduzindo: uma raridade).
Eu tenho em algum lugar guardada uma SVHS com o making of dele, quando achar passo pra digital, vai ser divertido ver como éramos novinhos e atualizo aqui.
A locução é de Sandra Marta.
A flauta é do Derico do quinteto do Jô.
A guitarra é do saudoso Palhinha que tocou com Sá e Guarabira, Os Mutantes, O Terço.
No vocal Rubinho, hoje com Os Incríveis.
Texto de Fernando Nunes
Acho interessante explicar um pouco a diferença de rodar o nascer do sol como se fosse o pôr. No entardecer a cor vai mudando do azul passando para o amarelo e finalmente o tom avermelhado do céu. No amanhecer é o contrário, por isso quando rodamos o amanhecer para parecer o por do sol normalmente temos que usar filtros na camera ou na pós-produção para acentuar os tons mais quentes, porque essa transição é bastante rápida.
Não tenho muito a acrescentar em tudo que a Ana contou, foi tudo isso mesmo.
A única coisa é a dúvida que ficou na equipe quando divergíamos de alguma coisa e lá ia a Ana e eu longe de todo mundo. Aí quem estava de longe achava que era uma discussão, mas não, falávamos de como conduzir determinada cena só que de uma forma calorosa, quem estava de longe achava que estávamos brigando, quando juntos nos aproximávamos viam que estávamos sorrindo, não entenderam nada durante todo o filme.
Sempre foi assim quando trabalho com a Ana, mesmo que a gente não concorde sempre chegamos em um denominador comum e tudo termina com um sorriso.
Confesso também que revendo o comercial meus olhos se encheram de lágrimas.
No vídeo abaixo tem a Abertura do DVD – comemoração de 50 anos da banda Os Incríveis.
Coloquei aqui porque no começo do vídeo tem um resumo de como surgiu a geração Hippie, pra quem não sabe vale assistir.
Como disse no outro comentário, quando bate a sintonia e a confiança não tem como dar errado.
ResponderExcluirVeja :
Estamos em 2021 e estão juntos em outro trabalho maravilhoso q vcs nunca iriam pensar se não fosse essa Pandemia, bora tirar coelhos da cartola e se reinventando sempre 😉 ..
Tem razão Katia se não fosse a pandemia não teria surgido essa idéia.
Excluir😉😉😉
ExcluirSensacional!
ResponderExcluirQue história linda da publicidade dos bons tempos.
Saudade dessa época Vivi. E seu podcast tá ótimo! Coloca o link aqui nos comentários.
ExcluirOi Ana, muito obrigado pela colher de chá.
Excluirwww.vozoff.com.br
Muito bom! Delícia de história
ResponderExcluirObrigada!!!!!!
ExcluirDemais!!
ResponderExcluirLembrei de bicho grilo, natureba da Juréia., maluco beleza... faz é tempo!!
Bjs
São Tomé das Letras ahahahah
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