Já escrevi no blog e falei no Podcast (https://open.spotify.com/show/7GiIL82d7bOJohEKukNsRr) que comecei
fazendo vídeo e por causa da segmentação da época tive que suar para começar a
fotografar em cinema.
Já havia feito uns dois ou três trabalhos em filme, não
era o suficiente para conseguir mercado. Certo dia meu cunhado, na época, disse
que o irmão dele trabalhava em uma agência e que estavam precisando de alguém
que dirigisse e fizesse também a direção de fotografia. Consegui marcar uma
reunião e lá fui eu, sem nunca ter dirigido nem as minhas filhas no parquinho.
Era um projeto para a Toffer, uma malharia na região do
Bom Retiro, região aqui em São Paulo forte nesse segmento. O dono, Manolo, é
apaixonado por cinema. Seriam três filmes mostrando épocas diferentes. O primeiro
era sobre a geração beat, anos 50/60. O segundo a geração hippie, anos 60/70. O
terceiro a geração dos anos 80/90. O Slogan era: Toffer a malha que veste a sua geração.
Roteiros dos sonhos para qualquer um imagina para mim,
poderia ser a minha passagem definitiva de um diretor de fotografia “rotulado”
como de vídeo, para ser apenas um diretor de fotografia que conseguia fazer os
dois formatos.
A agência não percebeu a minha inexperiência e topou
fazer comigo. Eu precisava estar mais seguro na direção de cena, por isso
resolvi convidar a Ana Cal que estava começando a dirigir para ser minha
assistente de direção, e não é que ela topou!
Por se tratar da geração beat o comercial foi todo rodado
em externa. O roteiro intercalava cenas de um rapaz em um posto de gasolina e
uma moça na beira de uma estrada tentando pegar uma carona, até que quem dá a
carona é o nosso personagem.
Nesse primeiro trabalho assumi a direção com a Ana me
dando retaguarda. Montamos uma equipe de primeira, rodamos em 35mm em, se não
me engano, duas diárias, depois de uma pré produção intensa. O comercial ficou
lindo, a ponto de algumas pessoas comentarem comigo que achavam que o comercial
era gringo.
O mercado publicitário é grande, mas tem momentos que
parece um ovo. A notícia de que eu tinha feito esse comercial se espalhou,
começaram a surgir convites para dirigir e fotografar outros comerciais. Rodei
alguns durante um período, mas por alguns motivos desisti de continuar
dirigindo.
Primeiro: diretores de cena passaram a não me chamar mais
porque eu era um concorrente. Segundo: eu nunca quis ser diretor de cena,
apenas queria me firmar como diretor de fotografia em filme. Terceiro e mais
importante: não aguentava mais levar chute na canela da Ana Cal em reuniões.
Vou citar um exemplo desse terceiro motivo.
Surgiu um comercial para fazer em determinada produtora.
Lá fomos nós, Ana Cal e eu na reunião com a criação da agência na produtora.
Após apresentações e aquele bate papo furado que acontece sempre nessas
reuniões o roteiro é apresentado. Comecei a ler e todos os olhos se voltaram
para mim, quando terminei sem perceber soltei:
- Mas que bosta de
roteiro!
Imediatamente senti o primeiro chute na minha canela,
desferido com maestria pela Ana. Mas não me contive, fiquei dando sugestões que
modificariam totalmente a concepção da peça e levei mais alguns chutes da Ana.
Lógico que não pegamos o filme e ainda saí da reunião com sérias contusões no
tornozelo...
Na verdade acho que todo diretor de fotografia deveria
passar por essa experiência de dirigir. Entrar na ilha de edição, sentir o que
o diretor sente na hora de apresentar o filme, ter a responsabilidade por
decisões tomadas. O fato é que a partir daí se já tinha respeito pela direção
passei a ter muito mais, parei de reclamar quando se pede um take a mais como
opção e passei a entender a linha de raciocínio do diretor dando sugestões mais
dentro do contexto da montagem.
Acho que já sai demais do propósito inicial desse texto,
os comerciais da Toffer.
O segundo, Geração Hippie, foi um pouco diferente, a Ana
e eu assinamos a direção.Vou deixar pra ela escrever sobre esse segundo comercial.
Por enquanto, no texto abaixo, ela escreve um pouco do Toffer Geração Beat:
“O Fernando me chamou pra fazer assistência mais como uma
muleta se precisasse do que necessidade porque o cara mandou muito bem!
Esse filme ficou lindo!!!!!
Foi aí que conheci meu parceiro Gilberto Silveira, olha
ele aí de novo, que fez uma linda trilha pra esse filme.
A Fotografia arrasou, era em tons pastéis, a produção foi
perfeita com a caracterização dos personagens e locações. Eu lembro, acho que
era o Paulo Candido maquinista, encostado na parede do posto de gasolina
colocando os pés na parede como se estivesse descansando pra sujar e parecer
velha.
Pra mim uma produção dessa era um sonho, fiquei feito
criança quando vai pela primeira vez num parque de diversões. O Fernando como
meu mestre.
Filme de época é uma delícia tudo é bonito. Carro antigo,
bomba d’água que eu nunca tinha visto pro “galã” enfiar a cabeça na água (uma
cena linda), o figurino mara, enfim eu parecia pinto no lixo.
Foi meu primeiro contato com 35 mm.
E claro, como todos, queria só fazer isso na vida.
O Fernando está na procura da VHS bendita que guarda esse
filme. Um dia quando achar a gente atualiza o blog e posta.”
Ana Cal
Já agradeci várias vezes a Ana por ter topado essa
aventura comigo que mudou de patamar a minha vida profissional, mas nunca é
demais:
Obrigado Ana Cal!!
Quando a parceria tem q dar certo ninguém segura, seja ela no amor, no emprego, na amizade, etc...
ResponderExcluirAhhhhh... e quando confiamos então, não tem como dar errado, Parabéns a esta dupla do barulho rsss ....
né?
ExcluirLinda declaração de Amor!!
ResponderExcluirChorei quando li ahhaahahah. Que humildade que esse grande mestre tem.
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