Toffer Geração Beat - Texto de Fernando Nunes com participação de Ana Cal

 



Já escrevi no blog e falei no Podcast (https://open.spotify.com/show/7GiIL82d7bOJohEKukNsRr) que comecei fazendo vídeo e por causa da segmentação da época tive que suar para começar a fotografar em cinema.

Já havia feito uns dois ou três trabalhos em filme, não era o suficiente para conseguir mercado. Certo dia meu cunhado, na época, disse que o irmão dele trabalhava em uma agência e que estavam precisando de alguém que dirigisse e fizesse também a direção de fotografia. Consegui marcar uma reunião e lá fui eu, sem nunca ter dirigido nem as minhas filhas no parquinho.

Era um projeto para a Toffer, uma malharia na região do Bom Retiro, região aqui em São Paulo forte nesse segmento. O dono, Manolo, é apaixonado por cinema. Seriam três filmes mostrando épocas diferentes. O primeiro era sobre a geração beat, anos 50/60. O segundo a geração hippie, anos 60/70. O terceiro a geração dos anos 80/90. O Slogan era: Toffer a malha que veste a sua geração.

Roteiros dos sonhos para qualquer um imagina para mim, poderia ser a minha passagem definitiva de um diretor de fotografia “rotulado” como de vídeo, para ser apenas um diretor de fotografia que conseguia fazer os dois formatos.

A agência não percebeu a minha inexperiência e topou fazer comigo. Eu precisava estar mais seguro na direção de cena, por isso resolvi convidar a Ana Cal que estava começando a dirigir para ser minha assistente de direção, e não é que ela topou!

Por se tratar da geração beat o comercial foi todo rodado em externa. O roteiro intercalava cenas de um rapaz em um posto de gasolina e uma moça na beira de uma estrada tentando pegar uma carona, até que quem dá a carona é o nosso personagem.

Nesse primeiro trabalho assumi a direção com a Ana me dando retaguarda. Montamos uma equipe de primeira, rodamos em 35mm em, se não me engano, duas diárias, depois de uma pré produção intensa. O comercial ficou lindo, a ponto de algumas pessoas comentarem comigo que achavam que o comercial era gringo.

O mercado publicitário é grande, mas tem momentos que parece um ovo. A notícia de que eu tinha feito esse comercial se espalhou, começaram a surgir convites para dirigir e fotografar outros comerciais. Rodei alguns durante um período, mas por alguns motivos desisti de continuar dirigindo.

Primeiro: diretores de cena passaram a não me chamar mais porque eu era um concorrente. Segundo: eu nunca quis ser diretor de cena, apenas queria me firmar como diretor de fotografia em filme. Terceiro e mais importante: não aguentava mais levar chute na canela da Ana Cal em reuniões.

Vou citar um exemplo desse terceiro motivo.

Surgiu um comercial para fazer em determinada produtora. Lá fomos nós, Ana Cal e eu na reunião com a criação da agência na produtora. Após apresentações e aquele bate papo furado que acontece sempre nessas reuniões o roteiro é apresentado. Comecei a ler e todos os olhos se voltaram para mim, quando terminei sem perceber soltei:

- Mas que bosta de roteiro!

Imediatamente senti o primeiro chute na minha canela, desferido com maestria pela Ana. Mas não me contive, fiquei dando sugestões que modificariam totalmente a concepção da peça e levei mais alguns chutes da Ana. Lógico que não pegamos o filme e ainda saí da reunião com sérias contusões no tornozelo...

Na verdade acho que todo diretor de fotografia deveria passar por essa experiência de dirigir. Entrar na ilha de edição, sentir o que o diretor sente na hora de apresentar o filme, ter a responsabilidade por decisões tomadas. O fato é que a partir daí se já tinha respeito pela direção passei a ter muito mais, parei de reclamar quando se pede um take a mais como opção e passei a entender a linha de raciocínio do diretor dando sugestões mais dentro do contexto da montagem.

Acho que já sai demais do propósito inicial desse texto, os comerciais da Toffer.

O segundo, Geração Hippie, foi um pouco diferente, a Ana e eu assinamos a direção.Vou deixar pra ela escrever sobre esse segundo comercial. Por enquanto, no texto abaixo, ela escreve um pouco do Toffer Geração Beat:

“O Fernando me chamou pra fazer assistência mais como uma muleta se precisasse do que necessidade porque o cara mandou muito bem!

Esse filme ficou lindo!!!!!

Foi aí que conheci meu parceiro Gilberto Silveira, olha ele aí de novo, que fez uma linda trilha pra esse filme.

A Fotografia arrasou, era em tons pastéis, a produção foi perfeita com a caracterização dos personagens e locações. Eu lembro, acho que era o Paulo Candido maquinista, encostado na parede do posto de gasolina colocando os pés na parede como se estivesse descansando pra sujar e parecer velha.

Pra mim uma produção dessa era um sonho, fiquei feito criança quando vai pela primeira vez num parque de diversões. O Fernando como meu mestre.

Filme de época é uma delícia tudo é bonito. Carro antigo, bomba d’água que eu nunca tinha visto pro “galã” enfiar a cabeça na água (uma cena linda), o figurino mara, enfim eu parecia pinto no lixo.

Foi meu primeiro contato com 35 mm.

E claro, como todos, queria só fazer isso na vida.

O Fernando está na procura da VHS bendita que guarda esse filme. Um dia quando achar a gente atualiza o blog e posta.”

Ana Cal

Já agradeci várias vezes a Ana por ter topado essa aventura comigo que mudou de patamar a minha vida profissional, mas nunca é demais:

Obrigado Ana Cal!!

Comentários

  1. Quando a parceria tem q dar certo ninguém segura, seja ela no amor, no emprego, na amizade, etc...
    Ahhhhh... e quando confiamos então, não tem como dar errado, Parabéns a esta dupla do barulho rsss ....

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  2. Respostas
    1. Chorei quando li ahhaahahah. Que humildade que esse grande mestre tem.

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