Esse
texto é uma sugestão do Kito colorista, na época era segundo assistente de
câmera. É sobre um trabalho que fiz com helicóptero em Juazeiro do Norte na
região do Crato. Antes de contar essa história, vou falar de outra que também
aconteceu no Ceará.
O
roteiro era em um açude, só que o Ceará passava por uma seca e nas proximidades
de Fortaleza não havia nenhum com água.
A
solução que a Sandra Kraucher encontrou foi contratar um helicóptero para voar
pelos açudes do Estado e ver se achava algum que desse para rodar. Adivinhe
quem foi?
Muito
triste observar de cima terras tão secas. Onde havia um pouco que fosse de água
um verde crescia ao lado, o resto era terra arrasada. Depois de passar por
vários açudes, todos secos, em uma das paradas para abastecimento tivemos a
informação de que talvez o açude São José em Iporanga, no sertão, tinha água.
O
piloto era uma figuraça ele não conseguia achar a direção do açude, mesmo com
mapas, não teve dúvidas, viu um campo de futebol no meio de uma cidade pequena,
nem sei qual era. Falou para mim.
-
Vou descer ali.
Pousou,
para alegria da população que acho nunca tinham visto um helicóptero de perto,
desligou, abriu a porta e saiu correndo em direção ao boteco da esquina. Quando
voltou perguntei:
-
O que você foi fazer lá?
- Ué macho, pedir
informação da direção do açude! – falou com a maior naturalidade, como se
estivesse com um carro e não com helicóptero.
E
não é que deu certo, achamos o açude. Estava com água, não assim, transbordando,
mas com o ângulo certo dava pra rodar.
Dois
dias depois fomos para lá. Uma coisa é você ir de helicóptero, outra é ir com
alguns carros. Por terra tivemos que passar por várias pirambeiras, demoramos
horas. Chegamos no meio da tarde, durante a viajem fui bastante xingado.
Tínhamos pouco tempo para rodar, foi uma correria. Lembram quando no texto “São
Jorge” falei de algum santo ou santa protetora das filmagens? Pois é, deu tudo
certo.
Vamos
a história de Juazeiro do Norte.
A
missão era sair de Fortaleza de helicóptero, rodar paisagens no caminho, chegar
em Juazeiro, fazer imagens aérea, descer, rodar em terra e voltar para
Fortaleza.
Chegamos
ao aeroporto cedo, o helicóptero era um Esquilo. O pessoal da Aircam, uma
empresa especializada em equipamentos para estabilizar imagens aéreas, já
estava por lá e começaram a preparar o helicóptero. Tem que tirar os bancos,
montar uma espécie de eixo com amortecerodores, depois vem um braço que deixa a
câmera quase fora do helicóptero, ao lado um banco para sentar com apoio para
os pés, e o objeto da discórdia: um defletor, uma peça pequena de acrílico
colocada do lado de fora para “segurar” um pouco o vento. O equipamento é o
Aircam Side Mount.
O
piloto era um senhor na casa dos cinquenta anos baixinho, com óculos mais fundo
de garrafa que o meu, chega e vê o equipamento com a câmera, uma SR2 16mm já
montada, olha para todo mundo e diz para a Sandra Kraucher:
-
Eu nunca voei com uma “geringonça” dessa.
Isso é pesado e esse defletor vai desestabilizar e frear o helicóptero. Não dá
pra tirar? Tenho dúvidas se a gasolina vai dar pra chegar em Juazeiro.
Imediatamente
houve um protesto generalizado das duas pessoas da Aircam e meu. A Aircam por
causa da qualidade final das imagens e eu, afinal, é que ia receber aquele
vento todo. Não era a primeira vez que usava o equipamento ou voava sem o
defletor, sem ele era muito chato, acreditem o vento lá em cima é forte.
Depois
de tentarem várias soluções ficou decidido que partiria imediatamente por terra
uma picape levando combustível.
E
lá fomos nós, o piloto na frente do lado esquerdo, o diretor ao seu lado e
atrás eu no assento do Aircam e o Jair Melo, assistente de câmera.
Sobre
o Jair preciso fazer um comentário. O Paulinho Bocal estava fazendo a transição
de assistente de câmera para diretor de fotografia, eu trabalhava direto com
ele, pedi que me indicasse alguém que fosse tão bom assistente quanto ele, me
indicou o Jair Melo. No primeiro trabalho tinha que fazer cenas em uma
danceteria, em 16mm, falei para o diretor:
-
Vamos filmar bastante por causa do foco,
vou trabalhar com o diafragma bem aberto, quase sem luz, mexendo a câmera na
mão o tempo todo, a chance de perder foco é grande, ainda mais que o Jair vai
ter que ir no olho, não vai dar pra usar trena.
Quando
vi as imagens no telecine não acreditei, ele perdeu só dois focos, o resto do
material estava perfeito. Desde esse dia o Jair Melo passou a ser minha
primeira opção, fizemos vários trabalhos juntos. Ele além de ser um excelente
profissional é uma pessoa do bem. Obrigado Paulinho Bocal pela indicação,
aliás, obrigado pelo tanto que me ajudou quando comecei a fotografar com
cinema.
O
voo para Juazeiro foi bem arrastado. Não sei se pela inexperiência de voar com
o estabilizador, mas o piloto foi bem devagar e o tempo foi passando. No helicóptero
o barulho é alto com a porta, sem a porta de trás é ensurdecedor, sempre usamos
fones de ouvido o tempo todo, daqueles grandes, até para podermos nos comunicar.
Já entrando na tarde, em determinado momento, eu e o Jair estranhamos um certo
alvoroço entre o piloto e o diretor. O piloto cortou os fones da parte de trás,
não ouvíamos nada do que falavam. O trajeto do helicóptero estava seguindo a
estrada. Eles falavam o tempo todo, apontavam para baixo e o diretor acionava
também um walk talk que tinha na mão.
De
repente o piloto começa a descer e pousa em um campo aberto, assim que o
helicóptero é desligado, sem falar nada, os dois saem correndo. Olhei para o
Jair, sabe aquela coisa de desenho animado? Aquela cara que vira um pirulito?
Pois é, era a nossa cara perguntando: Que
cassete esses caras estão fazendo?
Do
nada começaram a surgir pessoas de todos os lados, com pedaços de pau, foices,
facas e até espingardas. Cercaram o helicóptero só olhando com cara feia.
Arrisquei, meio gaguejando:
-
Boa tarde pessoal...
Nada.
Silêncio total, nem um sorriso.
Olhei
o Jair assustado como eu, e um subtexto no ar dizendo: Foi bom te conhecer amigo!
Nisso
o piloto e o diretor voltam com um produtor, todos carregando galões de
gasolina. Só ai soube que o combustível estava no “osso”, se não pousasse
teríamos caído. Entre o cerco ao helicóptero e a chegada deles, para nós foi
uma eternidade. Depois soube que tínhamos aterrissado em um acampamento de sem
terra.
Aliviado
continuamos a viajem, já começando a escurecer. Os planos de filmagem tinham
ido pro saco. O helicóptero não tinha instrumentos para continuar à noite, nem
dava para chegar em Juazeiro, o plano era dormir em Limoeiro do Norte em um
hotel que o piloto conhecia que dava para pousar e na manhã seguinte filmar. Já
quase que escuro eu e o Jair vimos outra cena estranha acontecendo. O piloto
voava baixo, de novo os fones foram cortados, o diretor próximo ao piloto
gesticulava e falava fazendo sinais ora para baixo ora para cima, ora apontando
a direção. Finalmente pousamos no terreno do hotel.
Assim
que saímos do helicóptero perguntei para o diretor:
-
O que estava acontecendo?
- O piloto não
enxerga nada à noite, eu tava guiando, desviando de fios de alta tensão e
tentando achar o hotel.
Ufa!
Saímos vivos!
Limoeiro
do Norte é uma cidade pequena e simpática. Lógico, bebemos muito e para nossa
surpresa naquela noite tinha “O” forro na cidade, fomos todos. Parecia que a
cidade inteira estava lá. Foi divertido. Como uma pedra dança mais que eu,
continuei bebendo.
No
dia seguinte tudo correu bem. Conseguimos filmar. Para quem não conhece
Juazeiro do Norte é a terra do Padrinho Padre Cícero, a cidade é linda e a
atmosfera mágica, uma religiosidade que emociona.
A
volta para Fortaleza foi maravilhosa. O negativo tinha acabado não dava para
filmar mais nada. O piloto fez um voo tranquilo a uma altitude baixa, pudemos
curtir paisagens lindas.
Depois
de alguns meses voltei a Fortaleza para outro trabalho e soube que aquele
helicóptero tinha caído. O piloto teve ferimentos leves, aproveitou e
aposentou. Graças a Padrinho Padre Cícero! Amém!
*Quero
agradecer ao Homero da Aircam Special Systems pela cessão das fotos.
Aircam Side Mount montado
Hahaha, pelo jeito foi bem divertido
ResponderExcluirkkkkkkk, foi aventura divertida. Obrigado Daniel!!!
ExcluirKkkkk.
ResponderExcluirComo sempre, boas histórias garotinho
Kkkkk.
ResponderExcluirComo sempre, boas histórias garotinho
Valeu, muito obrigado, continue seguindo a gente.
Excluirtenho pavor de altura. Todas as vezes que fui forçada a voar por conta do trabalho, juro, deu m....! Vocês foram muito corajosos! 👏🏽
ResponderExcluirAo contrário Katia eu sempre gostei de altura, mas às vezes a gente pegava cada piloto....
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirHahaha demais :)
ResponderExcluirObrigado Sofia!!!
ExcluirMeu Deus, cada uma q vcs se metem rssss....
ResponderExcluirQuando vi as fotos do Helicóptero não acreditei, o q vcs passam para vermos cenas maravilhosas não?
Que aventura, Parabéns.. 😉
kkkkkkk, verdade Katia, obrigado!!!
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