Depois de tanto tempo de profissão aprendi que temos que ser flexíveis, nem sempre dá para fazer coisas legais.
Não importa se é fixo ou free lancer, coisas ruins vão aparecer e tem que realizar. Se você é fixo não tem escolha, se você é free lancer até tem escolha, mas dependendo do dinheiro ou da sua situação você faz.
Roteiros ruins quase não tem jeito, às vezes conseguimos salvar. Uma direção, direção de fotografia, escolha de ator, direção de arte, produção especialmente excelentes podem salvar, mas é raro. Por isso todo profissional tem o seu portfólio e o seu “porquifólio”, aqueles trabalhos que você não conta pra ninguém que fez, e quando passa na TV muda de canal.
Na década de oitenta, na Globotec, apareceu uma convenção de um partido político. O seu presidente e futuro candidato era um populista de direita que eu não gostava. Falei com meus chefes que eu não queria fazer, mas não teve jeito, eu era fixo.
A convenção foi feita em um pequeno teatro, colocaram uma grande mesa no palco onde os políticos sentaram. O pé direito era baixo e na época não tinha opção de luz, então fiz a luz frontal com uma bateria de mini bruti de seis lâmpadas, mais ou menos uns dez. Para quem não conhece, cada lâmpada tem 650w, cada refletor tem no total 3.900w, a luz é muito quente.
Começa a convenção, não dá cinco minutos e todos começam a suar. O nosso ilustríssimo candidato na época usava uns óculos enormes, depois ele operou e não usou mais. Com a luz baixa o excelentíssimo ficou com uma sobrancelha de luz e absolutamente ensopado de tanto calor, um horror. Confesso que esse trabalho foi um dos piores que já fiz mesmo tendo feito o que dava, confesso que me esforcei muito para fazer o melhor, mas não dá pra dizer que não gostei.
Tenho alguns, mas o meu maior porquifólio foi um comercial para um grande atacadista de alimentação. Roteiro: Alguns figurantes aparecem em lugares diferentes usando uns óculos grandes de papelão com olhos estranhos desenhados, eles tinham que fazer uma dancinha cantando o jingle da campanha, que basicamente era o nome da empresa, não sei como o cliente aprova um roteiro tão ruim assim. Como toda loja desse tipo de mercado, era grande e feia. Os figurantes eram variados, incluído um que sempre errava os passos. Não havia direção, fotografia, arte, figurino que salvasse um roteiro desses.
A Maria Taccari nesse trabalho acumulou as funções de assistência de direção e coreógrafa. O que mais lembro é que a cada cena, eu e ela no monitor, nós não aguentávamos e riamos às gargalhadas, cada vez que os figurantes faziam a dancinha. Fizemos um pacto: Você não conta que fiz e eu não conto que você fez.
Porquifólios são pessoais e intransferíveis, com o tempo eles viram folclore e lembranças engraçadas. Sócrates me desculpe, mas tenho que contar o seu porquifólio na Globotec. Um comercial de cemitério, diz a lenda que o atendimento fez o contato pela lista telefônica. Arrumaram um ator de mais ou menos uns cinquenta anos, bem magro, com o rosto encovado, cara de morto, sei lá, parecia um zumbi. Em croma key, com um fundo de um campo de cemitério, ele entra em cena e dá o texto com uma voz grave:
- É bucólico...
O texto segue, mas o que me marcou foi esse “bucólico”, com o ator pedindo para ser enterrado, e a assinatura: “cemitério tal, adquira já”, ou mais ou menos isso. Até hoje todo vez que lembro dou risada.
Amigo se você ainda não tem o seu porquifólio, pode ter certeza, você ainda terá um. Assim é nosso trabalho, coisas muito boas e outras que nem te conto...
Se você também tem o seu porquifólio escreva nos comentários desse texto.
Hahaha...que atire a primeira pedra... quem fala quem não teve é mentira....
ResponderExcluirO que temos que enfrentar não? A vida nos resguarda muitas surpresas, boas ou ruins elas aparecem, mas depois quando passa........ passa a ser histórias lembradas com muitas risadas ahhhhhh......como é bom....
Concordo Katia, quem não tem um porquifólio está mentindo. kkkkkkk. Obrigado!
ExcluirKkk...😉😉
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