Um dos filmes que faz parte do trash-reel fiz para um amigo que me ligou no dia da filmagem e implorou pra que eu o ajudasse.
Mario da Latina (esse Latina era uma agência de casting, mas era como se fosse o sobrenome do cara) era uruguaio acho, baixinho, gordinho, calvo, mais velho que a maioria da equipe, mas era “A” figura. Sabe o gay dos anos 90, que não tinha vergonha de nada? Quando acontecia uma merda, ele colocava a mão na testa e começava o show, não era histérico era um surto delicado, fingia que desmaiava, às vezes se deitava no chão e com aquele sotaque não tinha como você ficar brava quando ele dava um furo, e ele vivia dando uns furos ahhaahah. Foi um dos grandes amigos que perdi pro HIV na década de 1990. Era produtor de casting.
- Ánna, por fafóóóór tenho um clientche antigo que vai facer um filme e o diretor (sei lá que desculpa que deu não lembro, mas entendi depois) faltou (ou ficou doente, não lembro). Precissó de você!
Topei na hora, mas falei que tava gravando e ia terminar no final do dia e ele me explicou que enquanto isso o diretor de fotografia que eu não conhecia ia fazendo a luz e quando eu chegasse era só rodar.
Eu estava na Maria Antônia e a gravação era na Raposo Tavares, loooooonge pra dedéu. Cheguei às vinte horas. Peguei o roteiro e MEEEEEUUUUUUUUUU DEEEOOOOSSSSS!
O roteiro era uma dúzia de bailarinos fazendo uma coreografia dublando o jingle do shopping.
Cheguei me apresentei a todos, o diretor de fotografia estava no alto da escada mexendo num refletor, mal me olhou. Hummm, já senti que ali tinha babado.
- Posso ver a coreografia?
Sabe quando Jesus te chama e diz: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso. Já te aconteceu isso? Eu pensei: Morro, mas levo o Mario.
Pois é. Um ia pra cá, outro ia pra lá, o conjunto era péssimo, e a luz que o cara fez era de show, eu entendi a ideia dele, mas aquelas luzes coloridas com aquele desencontro tava a pior coisa que você poderia ter visto. E a luz amarela pegava na pele dos caras e os deixava com o aspecto de doentes, bom a luz verde nem preciso dizer.
Fui falar com o diretor de fotografia que não gostou de minha opinião, ficou puto, já devia estar porque deve ter demorado pra fazer aquilo e sabe Deus o que aconteceu com o diretor que fugiu e de repente chega uma desconhecida e quer mudar tudo.
Ele também fazia a câmera, eu olhei pro Mario e ele já começou a suar e colocar a mão na cabeça, kkkkkk, e antes que desmaiasse fui com tato tentar salvar alguma coisa.
Eu não lembro em que momento fiquei sabendo que o diretor de fotografia (e que fazia a câmera lembra?) ia zarpar a meia noite. Ou seja, eu com aquele pesadelo, se começasse a gravar as vinte e uma horas, o que eu achava impossível até acertar aquele desacerto, não ia conseguir fazer o filme em três horas.
Chamei o Mario e falei:
- Agora é sério amigo, a casa vai cair!
- Nooooonnnnn, fasss um dançando ali, outro lá e vai dar tudo certo. Você é ótchima!
Juro que até tentei ficar puta com ele, mas era impossível.
Comecei a gravar. Não tinha um trio que fizesse algo parecido e interessante com o ritmo da música pra eu gravar por bloquinhos. A minha vontade era fazer o que provavelmente o outro diretor fez, CORRA LOLA CORRA e não olhe para trás.
Parei a gravação e fui ao banheiro. Fechei a porta e comecei a rezar, juro por Deus que comecei a rezar, pedi pro Arcanjo Miguel me tirar daquela roubada, pedi forte, com fé, uma fé desesperada, ele nunca me abandona. Voltei com a cabeça mais fria e decidi.
Pedi pro Mario agradecer o diretor de fotografia e o dispensar porque em três horas eu não teria o filme. E não ia rolar começar com um e terminar com outro. Não preciso dizer que ele deve me odiar até hoje. Eu não lembro que amigo diretor de fotografia que implorei pra me socorrer(percebe o efeito dominó?). Se você se reconhecer por favor deixe nos comentários pra eu te agradecer de novo.
Enquanto o amigo não chegava comecei a tentar coreografar os caras, pensa na cena, EU COREOGRAFANDO.
O amigo chegou e arrancou aquela luz colorida que girava e fez uma luz adequada, demora fazer a luz, então começamos a gravar de madrugada e terminamos tipo 7 da manhã e eu tinha que ir direto pra ilha de edição e terminar até tipo quinze horas porque o cliente tinha que levar a fita pro interior.
Arcanjo Miguel meu amigo e salvador abriu as asas sob o editor, não lembro também quem editou, mas salvou o filme. O cliente tava cochilando, coitado, não é qualquer um que aguenta virar a noite e ficar de boa, quando assistiu o filme pronto ficou mega feliz.
Não importa se você não gosta do filme, quem tem que gostar é quem paga.
Quem nunca fez um filme ruim?????
O que a gente não faz por amigos?
ResponderExcluirBela enrascada, rsss....
Mas por vc ser profissional e gostar do que faz é aí que faz a diferença, precisamos disso: bons profissionais q aceitam desafios e fazem dar certo. PARABÉNS 😘
Obrigada Katia!!!!!!!!
Excluir😉😉💋
ExcluirDepois de ler a história, juro que pagava pra assistir esse filme! 😁
ResponderExcluirahahahahahah nunca! nem tenho!
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