Yukio Sato - Texto de Fernando Nunes

 

Teve uma época que fiz muitos trabalhos no Ceará pela Cia de Imagem. Foram muitos comerciais, duas campanhas políticas e um curta metragem, Solidão dos Dias Difíceis.

Formávamos um quinteto muito bem afinado. Sandra Kraucher dona da produtora, Edu Ramos diretor e amigo, não necessariamente nessa ordem, Yukio diretor de arte, Helge Thor editor e islandês, aliás, sempre achei que o Helgi era “A” colônia islandesa no Brasil, nunca conheci outro, se alguém conhecer me avise, aí a colônia crescerá em cem por cento.

Yukio era uma figura fantástica, genial. Sempre de bom humor, amigo de todos, não tinha tempo ruim pra ele, um profissional daqueles que transformava qualquer coisa em cenário, além de ser um excelente músico. Teve um trabalho que ficamos hospedados em um hotel onde havia um piano no saguão, de vez em quando ele pedia a chave e tocava. Era um show, quem passava pela recepção parava para ouvir, mas ele só tocava quando queria, não adiantava pedir.

Tinha outra faceta, ele também de vez em quando “tirava” uma de ator. Fez uma cena no filme do Beto Brant, O Invasor. A cena final do curta com direção do Edu que fotografei, BMW Vermelho. E a cereja do bolo, não lembro se foi na década de oitenta ou noventa que a Semp Toshiba fez uma campanha com uma série de comerciais com o tema: nossos japoneses são melhores que o dos outros. Em um dos comerciais tinha um japonês paraguaio, adivinha quem era? Yukio, uma fala se tornou bordão na época: “La garantia soy yo”.

O Edu Ramos adorava sacanear o Yukio. Em uma das campanhas tínhamos um carro alugado, um Palio, que havia sido lançado há pouco tempo. Quando íamos para a produtora sempre o Yukio ficava no banco do passageiro na frente, eu ou o Edu revezávamos dirigindo o carro, quem não dirigia ficava atrás do banco dele. Puxávamos o cinto de segurança pra apertar o Yukio que ficava incomodado, ele sempre reclamava:

- Pô, esse carro é novo e tem problema no cinto, será que todos são assim? vou reclamar com a Sandra, não dá!!!

Foram três meses, todos os dias, só contamos quando terminou a campanha.

Nessa mesma campanha, jogando conversa fora com a equipe e rindo muito, o Yukio contou que em um longa eles tinham sacaneado um eletricista. Alguém usou a mesma meia durante um tempo até ela ficar com um cheiro muito forte, então esconderam na mala de ferramentas que ficou impregnada com o cheiro, o eletricista demorou um tempão até descobrir. Gostei dessa história!

Irivan era um dos produtores da campanha, estava no começo de carreira e havia comprado uma super mala de produção, seu sonho de consumo, e que foi alvo de muita trolagem de todos da produtora, o Irivan tinha muito ciúmes da mala. Falei para o Yukio.

- Vou sacanear o Irivan, vou fazer aquela história da meia.

- Legal Fe Nunes, começa a usar a mesma meia amanhã, mas faz o seguinte, molha de vez em quando e usa, vai ficar com cheiro mais forte. – ele riu.

Foi o que fiz, usei a meia por pelo menos duas semanas. Tava tão ruim que tirava a meia com as pontas do dedo e mesmo assim tinha que ir correndo lavar as mãos. E o estado dos pés então? Imagina um pé fedido, nem eu aguentava, até o quarto ficou cheirando, a camareira do hotel devia entrar com máscara anti gás!

Esperei o Irivan sair da sala de produção e sem ninguém me ver escondi a “bomba” no fundo da mala. Esperei o resultado.

Passou um dia, dois, três e nada do Irivan reclamar. Uma semana se foi e não aguentei, perguntei pra ele:

- Ô Irivan, você não achou nada na sua mala?

- Achei sim, há uma semana achei uma meia velha e joguei fora, era sua?

Quer dizer, no mesmo dia que coloquei a meia ele achou, nem deu tempo de “infectar” a mala.

- Imagina... - fiquei sem graça - e sentiu algum cheiro ruim? É que outro dia tava um cheiro estranho na sala de produção.

- Não, há semanas estou com rinite e não sinto cheiro direito.

Sai direto pra falar com o Yukio.

- Não deu certo. O Irivan tá com rinite.

- Eu sabia.

- Como assim? Sabia que ele não ia sentir o cheiro?

- Sim, mas você tava tão a fim de sacanear o Irivan que não avisei, acho que quem te sacaneou fui eu. – e saiu rindo.

Teria que ficar puto, afinal aguentei uma meia nojenta por duas semanas, ainda peguei micose nos pés, que demorou muito para sarar, a camareira me olhava torto toda vez que me via, o cheiro do quarto demorou uns dias pra sair, mas mesmo assim não dava pra ficar puto com o Yukio.

Toda vez que lembro dessas histórias com o Yukio sempre vem um sorriso, mas amigo você tem que perdoar, porque logo depois sinto uma ponta de tristeza, sinto saudades, você faz muita falta nesse mundo, quem sabe um dia a gente se encontra.

 

Link para comercial Semp Toshiba:

https://www.youtube.com/watch?v=-fKQEv5qEGA

 

                                                   Yukio no filme O Invasor

                                              Yukio no curta BMW Vermelho