The Handmaid’s Tale – O Conto da Aia - Texto de Ana Cal com participação afetiva de Fernando Nunes

 



Assisti o documentário O Dilema das Redes, que fala da influência das redes sociais na sociedade, sem expectativa nenhuma porque todo mundo sabe dos perigos da internet então não me atentava, até que tantos colegas indicaram que assisti. É curto.

Muito bem, tomei uma rasteira de não sei onde que chapei deitada no chão e por um tempo fiquei sem reação.

Não entrei mais no Facebook e Instagram por semanas.

Fiquei naquele vazio pensando o que vai ser da nossa sociedade num futuro próximo.

Até que o Fê Nunes insistiu pra eu assistir a série The Handmaid’s Tale - O Conto da Aia.

Pelas fotos que já tinha visto achei que fosse uma série de época, que nada! Mais atual impossível, mas como a história não é contada cronologicamente, ela te joga naquele universo sem explicar nada e você pergunta pro roteirista: Que cachaça é essa?

Não poderia ser mais pertinente assistir essa série na sequência do documentário. Façam isso se não assistiram ainda.

Ela começa um pouco lenta, construindo os personagens aos poucos, até questionei o que ele viu de tão boa massssss a partir do quarto ou quinto episódio já acelera e daí meus caros é um tapa na nuca, de te fazer cair do sofá. Viciante.

O mais tocante é a sororidade inexistente no início da série que sutilmente vai crescendo até se tornar protagonista. Lindo de ver.

É um filme feminista sem ser panfletário, é tocante como você cria empatia com todas as mulheres, mesmo com as “más”, também é um filme machista dos mais ofensivos, aparentemente surreal e você percebe o quanto é possível que isso volte a ser uma realidade.

O chamado sexo frágil mostra que de frágil não tem nada, tem a capacidade de se adaptar aos piores cenários, podem subjugar, mutilar, anular, calar, torturar física e emocionalmente, mas na hora certa ela vem como um general fodão pra comandar uma guerra. É matar ou morrer. Que força!

É uma série intensa sem ser pesada, você não fica com aquela sensação ruim, apesar de assistir um pesadelo (para as mulheres), é extremamente bem escrita, bem dirigida, bem atuada, dinâmica, é surpreendente.

Eles alternam os profissionais técnicos em cada episódio e fiquei bem orgulhosa que na grande maioria uma mulher dirige ou escreve.

O filme conta os EUA sendo tomados por um grupo radical religioso da direita extremista, não sei se tem mais do pior pra acrescentar à definição desse grupo, que através das redes sociais se uniram e tomaram o Congresso (alguma coincidência?), a Casa Branca, Washington e enfim jogaram fora o que era o país e construíram um novo, Gilead.

Quem não concordava fugia, morria ou se submetia, muitos morreram, outros conseguiram asilo no Canadá e muitas mulheres e crianças foram sequestradas pra uso fruto dessa sociedade. Famílias foram separadas.

Eles estavam com problemas de fertilidade por conta do meio ambiente e a maioria das poucas crianças que nasciam morriam nos primeiros dias. Pra construir esse mundo perfeito onde todos “seguem as palavras de Deus”, eles dividiram a sociedade em:

 

Os Comandantes – o chefe de família ligado ao governo que ajudou a criar as regras pra esse novo mundo.

 

As esposas – que antes de Gilead eram mulheres ativas, independentes massssssssss fanáticas religiosas que aceitaram abandonar seu passado profissional e assumir o papel que Deus lhes destinou, procriar. Virar a sombra do marido. É proibido qualquer leitura para as mulheres e as meninas que nascem nesse novo mundo não aprendem a ler. Ê beleza hein?

 

 As Handmaid’s Tale – as Aias. São as mulheres sequestradas em idade fértil, normalmente com filhos, sua função é gerar bebês para as famílias em que as “esposas” são inférteis.

 

As Ritas – Também fazem parte do grupo das mulheres sequestradas, são as cozinheiras, governantas, não importando se eram médicas chefes de UTI, professoras universitárias, diretoras de empresas, seu passado é apagado por essa nova realidade.

 

Os Guardiões – fazem parte do exército, nada mais são do que os X9 que ficam de olho em tudo para denunciar tanto patrões como empregados.

A coisa mais comum na cidade são pessoas enforcadas, penduradas no muro, nas árvores, você se acostuma, pasme, com esses elementos em cena.

 

Todos os episódios têm 3 situações distintas:

 

Gilead – com uma direção de arte magnífica, clean, enquadramentos simétricos belíssimos e uma fotografia que pelamordedeus, os movimentos de câmera clássicos e os ângulos de câmera escancaram os sentimentos dos personagens, fazia tempo que eu não via isso. Os super closes que transpiram as emoções sem precisar de uma palavra, conforme vai evoluindo a história os sentimentos vão se somando e no fim da terceira temporada eles te mostram o tumulto interno, a loucura, a coragem, o instinto de sobrevivência, ódio, prazer, vingança tudo junto e misturado, você acompanha a transformação da personalidade da personagem, enfim muito complexo pra explicar. Tem que sentir.

E a cereja do bolo – os plongées (câmera alta enquadrando de cima para baixo) – ah que preciosidade, tanto na composição do quadro, na direção de arte e o que representam, humilhação, solidão, impotência.

Em todos os ambientes têm poucos objetos e uma paleta reduzida de cores.

 

Os Flashbacks – a fotografia completamente diferente, colorida, quente, mas um “quente” quase cor de rosa, e em todos os planos é câmera na mão, a sensação que tive é que a personagem que tem o flashback vira a subjetiva da câmera (a câmera é o olho da pessoa), mas assistindo a cena de fora do corpo.

Todos os ambientes internos têm objetos pra caramba, quase uma bagunça, meio exagerado até, como se representassem tudo o que a pessoa acumulou na vida. Trouxe alguma coisa da infância, da época universitária, casa da mãe, casa de solteira e depois casada, ou seja, ali tem uma história.

O interessante é que os flashbacks não são cronológicos, mas amarram a história com perfeição.

 

O Outro Lado – é a vida dos que conseguiram fugir. Novamente a fotografia e a direção de arte são diferentes. A sensação é que é sempre cheio de gente, muita informação visual, ambientes improvisados, traduzindo o sentimento de não pertencimento dessas pessoas e o provisório que virou permanente.

 

Bom se isso não te convenceu a assistir essa série que tem um dos melhores roteiros que já vi, te dando porrada em todos os episódios, te tirando do sofá num “não acreditoooo” (muitas vezes coloquei a mão na cabeça e verbalizei um “puta que o pariu”), não tenho mais argumentos.

 É como se você estivesse tomando sol numa praia linda e do nada vem o tsunami te arrastando, você consegue se agarrar numa árvore e quando você acha que tá salva o galho quebra e te joga na correnteza de novo.

E o que falar da trilha? as vezes te arranca risadas, inusitada, um brilhante trabalho.

É simplesmente SENSACIONAL. Vai na minha que você não erra, primeiro o documentário O Dilema das Redes e na bota a série The Handmaid’s Tale - O Conto da Aia.

Texto de Ana Cal

 

 

Há um tempo atrás era muito arredio a séries, achava que para manter um roteiro minimamente interessante durante “n” temporadas, com cada episódio de uma hora, sem enrolar, teria que ser um gênio.

Participo de um coletivo, Coletivo Cinema Digital. Nos reuníamos uma vez por semana e estávamos desenvolvendo uma série distópica. O Zeca Rodrigues, diretor, e a Luciana, roteirista, sempre comentavam sobre The Handmaid's Tale, eu teimava em não assistir. Até que um dia, para poder participar mais das discussões, assisti. Mudou meu conceito sobre séries.

A Ana Cal já escreveu tudo sobre a série, e não exagerou.

Fotografia, direção de arte, direção, montagem, roteiro tudo te transporta ao universo da série de uma forma tão intensa que é impossível parar de assistir.

A fotografia, principalmente em Gilead, remete a quadro renascentista, principalmente aos trabalhos de Vermeer, fascinante.

The Handmaid's Tale tem cenas fortes e com temática indigesta por isso é o tipo de série que não tem meio termo, ou você ama ou odeia, eu sou da primeira opção, assista e tire sua conclusão.

Texto de Fernando Nunes

 

Link para trailer do documentário O Dilema das Redes:

https://www.youtube.com/watch?v=slNayjEi5bM

 

Link para trailer da primeira temporada de The Handmaid's Tale:

https://www.youtube.com/watch?v=TSSyU2uEusQ

 

Link para trailer do documentário O Dilema das Redes:

https://www.youtube.com/watch?v=slNayjEi5bM

 

Link para trailer da primeira temporada de O Conto da Serva:

https://www.youtube.com/watch?v=TSSyU2uEusQ

Comentários

  1. Muito bom! Vou compartilhar essa postagem no grupo do FB e vou te adicionar lá.
    Ah, é claro que vou assistir a série.

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    1. Eu preciso que alguém assista pra comentar comigo. Deses!!!!!

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  2. Gosto de assistir séries ou filmes e comentar com pessoas diferentes q veem por outros ângulos, e é isso o q vcs fazem, veem por um ângulo q com meu insignificante saber de entendimento como funciona realmente um set de um filme comece a me interessar a ver com os olhos de vcs , magnífico texto.👏👏👏

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  3. Vou ter que assistir ,larguei no episódio que iriam enforcar um monte de moças ,tava pesado demais pra mim ,e o som tava me deixando perturbada até que insisti bastante por saber que se tratava de algo muito bom ,mas não aguentei ,mas vou assistir ,acho que na época eu estava psicológicamente fraca (fases da vida ) hj tô me sentindo forte 🥰😜

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    1. Tenta novamente, mostra que a luta vale a pena

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