A maioria das pessoas tem livros, filmes, poesias em sua cabeceira. Não que elas fisicamente estejam lá, normalmente estão na cabeceira da alma.
Livros, impossível de citar somente um, filmes, idem, mas poesia e livro técnico sobre direção de fotografia sim.
Livro técnico: Dias de Una Cámera de Néstor Almendros, diretor de fotografia do François Truffaut, Terrence Malick entre outros, ganhador de dois Oscar por Cinzas no Paraíso (aquele que você comenta “o filme é muito ruim, mas a fotografia...”) e Kramer versos Kramer.
Poesia: Poema em Linha Reta de Álvaro de Campos, pseudônimo de Fernando Pessoa. Poesia que nos faz pensar e mostra o caráter do ser humano, passei a admirar principalmente porque é difícil aceitarmos um fracasso, uma derrota, um sentimento mesquinho ou mau.
Fernando Pessoa me fez admitir sentimentos que escondia como a inveja, insegurança e até a raiva.
Acho que tudo começou a aflorar quando assistia a um filme com a Jodie Foster chamado Nell de 1994. No meio do filme a personagem tomando banho em um rio sai da água e na silhueta, com a noite azulada, no contra luz, faz uma série de movimentos soltos. A luz, os enquadramentos, a sutileza e poesia da cena fizeram, sem que percebesse, que uma lágrima caísse dos meus olhos. Não, não era o filme em si, não era a atuação magistral da Jodie... A fotografia me fez chorar. A emoção era um engano, não era pela beleza, era pela inveja, naquele momento pensei: Filho da puta do Dante Spinotti, diretor de fotografia do filme, como com tamanha simplicidade, HMI de contra e fumaça, ele consegue isso???
O filme acabou para mim ali (tive que assistir outras vezes). Não conseguia parar mais de pensar em tantos outros filmes e diretores de fotografia que admirava, mas no fundo era inveja. O que dizer de Stephen Goldblatt, diretor de fotografia de Fome de Viver. Nos anos 80, 90, não havia diretores de fotografia estadunidense bons, todos eram europeus, imaginei que Stephen fosse até assistir Cottton Club, e lá estava nos créditos, BSC, o cara era inglês! O que dizer do grande mestre Vittorio Storaro e sua luz lógica e ao mesmo tempo poética. O que dizer de Pedro Farkas, Walter Carvalho, César Charlone, que tive a honra de trabalhar como eletricista, o que dizer de tantos e tantos fotógrafos de qualidade? Só tem uma resposta: INVEJA E RAIVA.
Inveja por uma fotografia que emociona e não sei se sou capaz de fazer algo parecido. Raiva por saber que nunca serei eles...
Fernando Pessoa... Ah Fernando Pessoa, porque você fez, quando li Poema em Linha Reta, me tornar tão ciente dos meus sentimentos mais escusos? Poderia ter sido muito ruim, mas não. Sentimentos ruins podem se modificar. Lógico que nunca serei um desses fotógrafos mágicos, com certeza essa inveja e raiva formaram e continuam formando minha visão estética, que, por causa deles estão lá, na cabeceira da minha alma.
Fernando, eu q fico com inveja e raiva de não ver com seus olhos e sua alma o q vc ve rsss... sinceramente, o q mais gostaria é sentar numa mesa com uma boa comida uma boa bebida e conversarmos noite a dentro intermináveis histórias suas e da Ana, um dia quem sabe, obrigada por fazerem esse blog.
ResponderExcluirObrigado Katia, espero que quando essa loucura da pandemia acabar possa te conhecer e conversarmos muito.
Excluir😉😉😉
ExcluirGrande, Fernando!
ResponderExcluirOi Ulisses, obrigado. Mas sou grande mesmo....mais de um metro e oitenta.....kkkkkkk
ExcluirNossa ,que massa ,sempre gostei das nossas conversas ,vc é muito bom com as palavras ,entendi perfeitamente a raiva e a inveja ,sinto o mesmo ,quando a arte me faz suspirar bem fundo, sinto essa inquietude de querer ter feito aquilo e a vontade de chegar lá mesmo não nunca se alcance ,sempre tentando fazer melhor ,ah , tava de manhã viajando na parede do meu quarto na luz que desenhava um monte de riscos que entrava pelas frestas da minha janela e pensei ,como gosto das coisas pintadas pela luz , é muito mágico e poético ,luz emociona 🥰🌹
ResponderExcluirObrigado Karina, a luz é mágica mesmo e sempre me emociona também.
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