Por incrível que pareça adooooro fazer campanha política, principalmente fora de São Paulo.
A minha primeira foi em 1996, naquela época não tinha essa mamata que a direção só fazia os comerciais, clipes e os candidatos majoritários, fazia também candidatos a vereador e se fosse pra governo, candidatos a deputados estaduais, federais e Senador.
Era insano.
Mas adoro dirigir pessoas.
Não procuro movimentos mirabolantes, pra mim candidato é cara a cara, nada de ficar com “travellingzinho” lento, é câmera fixa e nada de fazer o cara andar pra lá e pra cá a troco de nada. Tudo tem que ter um porquê. Às vezes tenho que quase bater boca pra convencer os de cima. Se eu fosse homem seria muito mais fácil, o que mais ouço é:
– Como é teimosa!
É um mundo masculino sem dúvida.
Uma vez ia gravar com o vice, queriam porque queriam que fosse na rua e não no estúdio. O cara era tímido, na rua ele não rendia tão bem quanto no estúdio e naquele dia ele estava com uma crise de sinusite e febrão, tava abatido. Eu disse que não ia pra externa, que ia fazer no estúdio. Imagine o cara embaixo do sol do nordeste!!!!!
Pra que! Isso gerou uma briga, do marqueteiro gritar comigo tipo você faz o que eu mandar e eu dar de dedo na cara dele dizendo que não admitia que ninguém falasse assim comigo, não foi bonito. Você pode discutir comigo, até brigar, mas gritar nunca, eu vejo vermelho, acho o máximo do desrespeito. Duvido que gritaria assim com um homem, o cara ia partir pra porrada. O coitado do vice que deve ter escutado o barraco, disse que tudo bem, ia pra externa. Eu acho um absurdo não cuidar da pessoa que estamos trabalhando, se tivesse um propósito ok, mas não vi diferença alguma em ter gravado numa praça qualquer, com gente da oposição que passava e xingava e tínhamos que regravar deixando o cara mais tempo no sol, do que gravar no estúdio em chroma key e aplicar o fundo da praça. E nem lembro se foi pro ar porque em campanha a gente grava muita coisa e nem tudo entra no programa.
Agora quando é candidato a vereador ou deputado é diversão na certa, aparece cada figura. A equipe já saca e ninguém se olha pra não cair na risada porque tem gente fora da casinha. Treze mesmo.
Meus sets sempre têm um clima bem descontraído pro candidato se sentir à vontade.
Chegou um candidato e eu fui ao lado dele em frente a câmera ensaiar o TP, ele falou baixinho:
– Tem como você na edição fazer um efeito especial na minha gravação?
Eu disse que era padrão, não podia ficar diferente dos outros, mas quis saber o que ele queria.
– É que tá faltando um dente aqui ó, tem como você aplicar com computação gráfica na edição um dente pra mim?
Willian Hissa era meu produtor nessa campanha, amava esse cara como um irmão e se eu pedisse o impossível esse cara conseguia pra mim. A gente já trabalhava há alguns anos então tínhamos uma puta sintonia.
Queria sacanear com ele e ver o que ia responder.
– Wi!!! Preciso que você resolva um problema pra mim
Ele veio correndo e perguntou:
– O que você precisa?
– Tem jeito de colocar um dente aqui?
A cara que ele me olhou eu me mato de rir até hoje, tipo você tá de sacanagem comigo.
Não falei que o cara era O CARA? Esculpiu no isopor um dente e encaixou no buraco.
Fiz um plano mais aberto e ficou perfeito, tudo bem, tive que regravar algumas vezes porque o dente voava e lá ia o Wi colocar de novo.
E pra encerrar o primeiro capítulo de campanhas, porque acho que com o tempo vou lembrar de mais coisas, numa campanha em 1998 para governo de MT, me avisaram que Antônio Carlos Magalhães estava chegando pra gravar um apoio e tinha que ser rápido porque era um bate volta pra Bahia. A impressão que eu tinha de ACM era de um coronel, político das antigas, resumindo não tinha bons olhos pra ele. Chegou com seu séquito que lotou o lugar, todos nervosos, arrogantes eu nem conseguia achar o homem no meio daquela muvuca. O dono da produtora o aproximou de mim, provavelmente já tinha dito que eu era a diretora e ele só olhou pro séquito que se desfez e sumiu. Fui apresentada. Pensa num gentleman, põe ele como o máster que deveria ter ensinado todos os outros homens a serem gentis, educados, carismáticos, enfim, fiquei apaixonada por aquele senhorzinho, entendi perfeitamente por que os baianos eram loucos por ele. Pediu o que EU queria que ele falasse, fez a gravação e enquanto o séquito nervoso voltou, ele delicadamente se despediu de mim. Só faltou beijar a minha mão.
Séculos depois tô num estúdio minúsculo, e como não deu tempo pra sair pra almoçar, a produção comprou frios e pães pra dar uma enganada.
Eu não queria comer um sanduíche então peguei uma fatia de presunto na pontinha dos dedos e levei ela pendurada até a boca, manja, com o pescoço esticado? Neste frame como se tivesse sido congelado entra o ACM Neto com o marqueteiro pra conhecer o estúdio, ele me pegou nesse momento.
Eu em situações de pânico não travo, reajo. Imediatamente falei, dando uma “bronca” como se ele fosse meu melhor amigo.
– Você tinha que entrar exatamente nesse momento e me pegar nessa situação nada elegante? Não posso nem te dar a mão!
Rimos todos, conversamos um pouco num clima descontraído porque depois daquela...
O avô ensinou o neto, ele também é um fofo, educadíssimo, carismático, simples e sabe conduzir uma saia justa alheia deixando a outra pessoa absolutamente confortável.
Como já disse, adoro fazer campanha política, adoro dirigir pessoas, mais histórias virão.
Maria Pretinha candidata a deputada curtindo o clima do set
Sdds dessas aventuras
ResponderExcluirte carrego em outra empreitada
ExcluirMuito bom mesmo trabalhar no ser vc dirigindo sem estresse e me lembro de um episódio parecido na campanha que fizemos juntos
ResponderExcluirOps set
ExcluirObrigada!!!!
Excluirótimo texto...deu pra ver direitinho a cena..aliás, assuntos de campanha são excelentes...ah os bastidores...
Excluirah os bastidores!
ExcluirTô vendo a sua cara com a fatia de presunto pendurada no ar! Campanhas e seus bastidores! Haha
ResponderExcluirahahahahahah me conhece do avesso!
ExcluirAhahahaha... Adorei o dente de isopor.
ResponderExcluirahahahah
ExcluirDente de isopor? Sério isso? Não iria prestar, todo vez q ele falasse e o dente de isopor saltaria boca a fora eu não aguentaria, teriam q me tirar de cena, que venham mais histórias, estupendo esse Blog.
ResponderExcluirEle ria junto, foi uma farra gravar
Excluir