Então, por que continuar na profissão?
Quando terminei o ginásio (atual ensino médio), queria cursar uma faculdade de jornalismo. Tive a ideia de antes de entrar na faculdade já trabalhar em algum meio de comunicação, comecei a procurar em vários lugares. TV, jornal, revista, rádio. Até que em 1979 apareceu uma vaga como auxiliar de iluminação na TV Tupi.
O Gilberto Botura, meu chefe, era um cara inteligente e queria “subir” o nível intelectual dos seus funcionários, na época no máximo as pessoas sob seu comando tinham nível primário. Além disso, há tempos ele pleiteava um aumento para seu pessoal, então ele me usou. Contratou-me com o mesmo salário deles e o RH não percebeu, então como um auxiliar não podia ganhar o mesmo que um iluminador e não podiam mais diminuir meu salário porque já estava registrado, conseguiu um aumento para eles. Fui contratado por acaso.
O clima era diferente de qualquer ambiente corporativo, mais descontraído, menos engessado, isso me encantou, embora o trabalho fosse pesado e pouco criativo. Fiquei fixo em uma novela que não terminou (a Tupi faliu), Como Salvar Meu Casamento. Fechávamos de dois a três capítulos por dia, das sete da manhã às seis da tarde, não dava para criar, tinha que ser prático. Sem experiência, não tendo feito nenhum curso nem faculdade de cinema, para mim o que vivi na emissora era o normal.
Da Tupi fui para a TV Gazeta e de lá para a Globotec em 1982. A TV Globo sentiu que a publicidade caminhava para produções em vídeo, até então só eram feitas em cinema. As agencias procuravam a TV para gravar os comerciais nos horários vagos da programação, inclusive à noite e de madrugada. A Globo resolveu montar uma produtora para atender o mercado com o seu selo, a primeira especializada em vídeo.
A Globotec mudou minha vida.
Roberto Pace era um diretor de fotografia que foi contratado pela Globo para dar um curso para toda rede, incluindo a Globotec, que aconteceu em 1984. Foi fascinante, comecei a entender o uso das lentes, profundidade de campo, temperatura de cor e principalmente a luz e suas técnicas. Um pouco mais tarde o Pace deu outro curso, desta vez para contratar mais um diretor de fotografia para a Globotec, daí veio o Roberto Augusto (Sócrates).
Não parei mais de estudar e nisso o Sócrates foi fundamental. Ele é formado em cinema pela FAAP, um cara que me incentivou, ensinou e com nossas conversas e suas indicações sobre filmes foi quem ajudou na minha formação. Obrigado doutor!
Para vocês terem ideia de como esse curso mexeu comigo uma vez fui a um bar, desses que só tem pontos de luz, escuro, clima romântico. Estava tomando um uísque, quando levantei o copo e uma luz “bateu” nele, fique paralisado. O líquido ficou lindo, e aí, com o copo no alto, comecei a procurar de onde vinha a luz. Coloquei os dedos para interromper a fonte de luz e ver como ficava, depois mexi o copo para cima e para baixo para sentir como mudava. Não sei quanto tempo isso durou, só sei que quando “voltei” todas as mesas ao lado estavam olhando para mim... Sorri envergonhado e sem graça.
Como não se apaixonar quando você aprende a “enxergar” a luz, a usar uma lente que consegue mudar a realidade? Quantos por e nascer do sol me inspiraram? Quantas vezes o sol do meio dia forma sombras incríveis? Como não se arrepiar com uma luz que entra pela janela inundando um ambiente?
Todo fotógrafo se sente como um pintor, só que ao invés de uma tela branca usamos uma preta. A cada luz que colocamos a imagem vai, de uma forma mágica, se formando. A cada gelatina as cores vão criando a atmosfera que queremos. Cada quadro, cada ângulo, cada textura são formas de criação e beleza, me emocionam. E para quem queria fazer jornalismo para poder com a escrita se expressar, aprendi que com a luz escrevo de outra forma.
Mesmo com todas as coisas ruins, até com a concorrência animal da foto de capa desse texto tirada pelo Carlos Rici, diretor, no Amazonas. As coisas boas superam e muito...
AMO MINHA PROFISSÃO!!!
EXCELENTE. Abs
ResponderExcluirObrigado!!!
ExcluirH
ResponderExcluirHonrado de fazer parte de sua trajetória de sucesso .Uma pequena correção que nos faz mais velhos.Globotec começamos em 1981.vc ficou na gazeta e Globotec emdois horários que nos revesavamos .Em 1984 já éramos "famosos". Um beijo ,saúde e sucesso.Saudades SÓCRATES.
Ô Doutor, fico emocionado, você sabe o quanto foi importante amigo. O que me ensinou não tem preço! Além do que demos alguns cursos juntos, qualquer hora conto essas histórias também. Quem se sente honrado sou eu. Muitas saudades.
Excluir"Você não vai tirar o prazer que tenho no meu trabalho", acho que a frase foi mais ou menos assim. Eu era um moleque e gostava (ainda gosto) de ouvir as situações no ambiente de trabalho do Fê, uma delas foi uma pedra que surgiu no caminho dele e assim ele falou esta frase. Não sou da área de publicidade, mas encontrei muitas pedras que mereciam ouvir o que o Fê falou. Um grande abraço do Carlinhos, o cunhado moleque.
ResponderExcluirValeu Lu, continua sendo o mesmo moleque do bem que sempre foi.
ExcluirBoa, Fernando Nunes! Por quem tenho grande respeito e admiração. E saiba que hora dessas, nosso filme em conjunto sairá! Anos depois, ainda continuo meus esforços para que, mesmo de gota em gota, o CRU siga rumo à sua conclusão. Com sorte, em breve assistiremos juntos. Forte abraço!!
ResponderExcluirDiego Ruiz de Aquino.
Boa Diego, abraços e obrigado
ExcluirGrande Fê Nunes, demais e tive o prazer de pular contigo em alto mar...hehe
ResponderExcluirKKKKKKKKK....Foi, qualquer hora conto a cena do barco de pescador até chegar no rebocador, só eu e a Luisa produtora bons....kkkkkk, foi nesse mesmo trabalho.
Excluirpelamor!!!!!!! ainda bem que eu não tava nesse job ahahahhaah
ExcluirKKKKKKKKKK...
ExcluirGosto das pessoas q amam suas profissões e fazem delas seus instrumentos de trabalho com amor, garra, prazer, sentimentos, tudo vale a pena, tudo flui naturalmente. Muito "ótimo".
ResponderExcluirMuito obrigado Katia.
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